Título: Pílula do dia seguinte é opção acessível
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 21/06/2005, Ciência & Saúde, p. A11

O Ministério da Saúde já distribuiu, desde fevereiro, 352.361 cartelas do comprimido à base de progesterona, mais conhecido como a ''pílula do dia seguinte'', para 1388 municípios por todo o país. O acesso a mais um método anticoncepcional através da rede pública vem ampliando as opções da população para impedir gravidez indesejada, abortos e mortes provocadas por intervenções mal realizadas. Em 2004, por exemplo, o Sistema Único de Saúde realizou em mulheres de 10 a 19 anos mais de 48 mil curetagens, procedimentos cirúrgicos aplicados após abortamentos, sejam eles provocados ou espontâneos.

A grande vantagem desse anticoncepcional é que pode evitar uma gestação após uma relação desprotegida. Pode ser usado em casos em de rompimento da camisinha ou deslocamento do DIU (dispositivo intra-uterino) e se a pílula convencional não for tomada adequadamente. É importante alertar, no entanto, que como todos os métodos para evitar a gravidez, a eficácia não é de 100%.

- Se for tomada 24h depois da relação, a eficácia é 95%, mas se a demora para tomar o comprimido for de 72h , o índice diminui para menos de 70% - afirma o ginecologista e professor da Uni-Rio Mario Vicente Giordano.

O método de emergência contém somente a progesterona, um dos hormônios da pílula anticoncepcional comum e está disponível nos postos de saúde em várias marcas. Os comprimidos - dois por cartela - devem ser ingeridos, no máximo, três dias depois da relação desprotegida, com um intervalo de 12 horas.

Segundo Giordano, a principal ação da progesterona é inibir a ação do hormônio LH, responsável por estimular a ovulação feminina. Outra alteração provocada pela pílula do dia seguinte é no muco cervical - a lubrificação do colo uterino - que fica espesso, o que impede a subida do espermatozóide. O medicamento também diminui os movimentos ciliares da tuba uterina - ''pêlos'' microscópicos que ajudam a levar o óvulo ao espermatozóide.

- Uma vez que já houve a fecundação ( encontro do espermatozóide com o óvulo), a pílula impossibilita a nidação - afirma Giordano.

Para ocorrer a gestação o ovo ou zigoto ( espermatozóide e óvulo) precisa se fixar dentro do útero. A progesterona torna o endométrio - membrana que recobre esse órgão - impróprio. Esta camada é essencial para que o ovo vire um embrião porque contém vários nutrientes.

- A pílula do dia seguinte altera a fisiologia do endométrio tornando-o mais fino do que o normal - afirma Giordano.

Essa ação do contraceptivo de emergência é a mais polêmica, entretanto a Organização Mundial de Saúde e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), não consideram o método abortivo.

- Uma vez que o ovo gruda no útero a pílula não age mais - comenta Mario Vicente.

O ginecologista e membro da Febrasgo-RJ Ricardo Bruno Vasconcelos concorda que o método não interrompe a gestação:

- O DIU também funciona impedindo a fixação do ovo no útero - comenta.

A administradora de empresas Carolina Cinelli, de 23 anos, já teve que recorrer à pílula do dia seguinte uma vez, quando estava sem tomar pílula convencional e acabou tendo uma relação sexual sem camisinha. Ela afirma que ficaria desesperada se o método não existisse:

- Acho que é comum acontecerem situações imprevisíveis, tipo a camisinha estourar ou esquecer de tomar pílula, aí é necessário recorrer a uma solução tapa-buraco - afirma.

Os médicos alertam que o método não pode ser utilizado rotineiramente, já que além de causar um transtorno do ciclo hormonal feminino, é muito menos seguro do que a pílula convencional e o DIU.