Título: 'Ninguém está seguro'
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 22/06/2005, Internacional, p. A9
O assassinato do ex-líder do Partido Comunista George Hawi, 19 dias após a morte do jornalista Samir Kassir pelo mesmo método, pode ser visto como tendo atingido dois objetivos, segundo uma análise publicada ontem pelo jornal libanês The Daily Star. Primeiro, alvejar Hawi visaria a demonstrar a falta de estabilidade no Líbano. Segundo, indicaria que houve uma mudança de alvo para personalidades políticas de menor escalão, cujas mortes não provocariam uma intensa reação internacional.
Em relação a George Hawi, nenhuma razão direta pôde ser encontrada para que tenha sido assassinado. Segundo a analista Rosana Bou Monsef, o único motivo específico que se poderia atribuir é o fato de Hawi ter bastante influência em nível regional.
No entanto, ele não representava uma ameaça ao governo ou a outras forças - especialmente porque não estava engajado em delicadas atividades políticas -, ainda que estivesse próximo a opositores da influência Síria no país.
Por isso, de acordo com a analista, não há outro motivo para o assassinato senão enviar a mensagem de que qualquer um pode ser o próximo alvo, em uma tentativa de fomentar a confusão e a instabilidade no país.
Segundo um ex-diplomata em Beirute citado pelo The Daily Star, trata-se da teoria do ''alvo de baixo escalão'', considerando-se que alvos importantes levam à interferência internacional. Dessa forma, a estabilidade poder ser minada sem grandes repercussões.
Mas o que teria levado a se alvejar, em particular, o ex-líder do PC libanês?
Assim como a morte de Kassir ocorreu logo depois da primeira etapa das eleições parlamentares, a de Hawi aconteceu após encerrada a última etapa do pleito, ''como se o Líbano estivesse destinado a passar por um campo minado antes de alcançar a segurança da liberdade''.
Todos os políticos que condenaram a morte de Hawi concordaram unanimamente que o país não é seguro - com ou sem o apoio internacional; com a presença de um governo totalmente submetido à influência síria ou de um governo independente e livre da hegemonia de Damasco. Ninguém está seguro.
O ataque também coincidiu com o início dos interrogatórios de autoridades de segurança por um comitê internacional da ONU, acerca da morte do premier Rafik Hariri, como se o crime trouxesse a mensagem de que investigações sérias poderiam pôr fim à série de assassinatos. Mas as investigações ainda estão no começo e os libaneses só podem tomar precauções. Reconstruir o Líbano será o mais difícil, opina Monsef.