Título: Terror elimina mais um opositor
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/06/2005, Internacional, p. A9
BEIRUTE - Feroz crítico do poder sírio no Líbano, o político George Hawi, 68 anos, foi assassinado em um atentado ontem, menos de 24 horas depois de a oposição anti-Síria conquistar a maioria das cadeiras no Parlamento libanês. O assassinato foi o segundo este mês contra personalidades que se opunham à influência de Damasco no país.
Secretário-geral do Partido Comunista libanês (PC) durante a guerra civil no país - 1975 a 1990 -, Hawi foi morto por um pequeno explosivo que estava sob o banco do carona de seu Mercedes e foi detonado por controle remoto logo depois que ele entrou no veículo, no bairro de Wata Musaitbi, em Beirute. Estima-se que a bomba pesava cerca de 400 gramas. O motorista que dirigia o carro escapou sem ferimentos graves, enquanto o político morreu instantaneamente. Sua mulher, Sossie Madoyan, chegou a vê-lo logo após o atentado, já que saiu da clínica em que trabalha, próxima ao local do incidente, após escutar a explosão. Ela desmaiou em seguida.
- O carro continuou e o motorista, gritando, pulou pela janela - contou uma testemunha.
No início do mês, um artefato parecido ao de ontem matou Samir Kassir, jornalista de oposição e ativista político. Em fevereiro, o ex-premier Rafik Hariri foi assassinado em um ataque contra seu comboio, também em Beirute.
Como fizeram nos dois casos anteriores, membros da oposição não tardaram em culpar agentes do país vizinho e seus aliados nos serviços secretos do Líbano. Como base para a acusação, tais políticos usaram relatórios que apontam que Damasco - na tentativa de manter sua influência sobre a nação - fez uma lista de inimigos anti-sírios que devem ser eliminados.
Para o vencedor das eleições, Saad Hariri, filho de Rafik, o crime ''é uma flagrante tentativa de desestabilizar o Líbano e mostrar ao mundo que não podemos governar por nós mesmos''. A acusação foi de certa forma corroborada pela secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que exigiu que Damasco ''freie'' suas atividades de desestabilização, que, segundo ela, contribuíram pelo menos de forma indireta para o assassinato do ex-líder do Partido Comunista.
A acusação da secretária foi uma das mais explícitas vindas de uma autoridade de alto escalão dos EUA contra a suposta ingerência síria na política libanesa desde que Damasco retirou suas tropas, em 26 de abril.
- As forças visíveis partiram, mas eles continuam atuando claramente no Líbano - disse.
O governo sírio, por sua vez, sugeriu a existência de uma conspiração israelense. Em Damasco, o ministro da Informação, Mahdi Dakhlallah, destacou que ''os inimigos do Líbano estão por trás destes crimes'', acrescentando que Hawi era ''um homem que resistiu à ocupação israelense'' e ''mantinha fraternas relações com a Síria''. A teoria conspiratória também foi corroborada pelo atual secretário-geral do PC libanês, Khaled Hadade.
- O ataque foi uma vingança contra os que lutam pela paz e a democracia, cometida por Israel e seus agentes no Líbano.
- Israel é o grande beneficiário - emendou o líder druso Walid Jumblatt.
Hawi liderou seu partido rumo à uma aliança com a guerrilha palestina contra o Estado judeu, na invasão do Líbano, em 1982. Ele inicialmente se opôs à intervenção militar síria, mas depois lutou ao lado dos sírios contra milícias da direita cristã apoiadas por Israel. Com o fim da guerra civil, se tornou proeminente crítico da presença de Damasco. Pelo menos 2 mil pessoas se reuniram em vigília no local do atentado. Cinco suspeitos foram detidos.