Título: Secretária volta atrás e ataca Valério
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/06/2005, País, p. A8

BRASÍLIA - Depois de negar na Polícia Federal a entrevista que havia dado à revista IstoÉ Dinheiro, a secretária Fernanda Karina Somaggio voltou atrás e afirmou que suas declarações não foram distorcidas pela publicação. Com um novo advogado desde a última segunda-feira, Fernanda decidiu ontem confirmar as declarações de que seu ex-patrão, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, teria relações com o tesoureiro e com o secretário-geral do PT, Delúbio Soares e Silvio Pereira, e que Valério seria o distribuidor das malas de dinheiro, supostamente usadas para pagar o mensalão.

- Ela encorajou de vez, vai falar tudo e um pouco mais - disse o advogado Rui Caldas Pimenta, acrescentando que ela havia recuado porque foi ameaçada logo após a divulgação da entrevista, na semana passada.

Fernanda está sendo processada por Valério por tentativa de extorsão. Como parte da estratégia de defesa de Fernanda nesse processo, está a entrevista que ela concedeu ontem ao Jornal Nacional da TV Globo. O próprio advogado cuidou disso:

- Já faz parte da minha estratégia. Ela já está confirmando que foi ameaçada, que foi intimidada, vai confirmar tudo.

A ex-secretária reafirmou ao Jornal Nacional todas as informações que estavam na IstoÉ Dinheiro. Ela disse que vários políticos até de oposição, como o tucano Pimenta da Veiga, receberam dinheiro de Valério.

Em nota divulgada na noite de ontem por sua assessoria, o publicitário Marcos Valério, rechaçou as acusações. ''Elas diferem e, em essência, contradizem os depoimentos prestados por ela, em Belo Horizonte à Polícia Civil, em setembro do ano passado; à 6.ª Vara Criminal em 20 de maio último; e à Polícia Federal, no dia 15 deste mês''.

Ontem, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) apontou pelo menos três testemunhas no Conselho de Ética que, na sua opinião, poderão reforçar suas denúncias de existência de um esquema de pagamento de mesada para deputados da base.

Entre os nomes escolhidos, de uma lista inicial de 22 pessoas, estão o governador de Goiás, Marconi Perillo; a ex-mulher do presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto, Maria Cristina Mendes Caldeira; e Fernanda Karina, ex-secretária de Marcos Valério.

Marconi Perillo foi o primeiro político fora do Congresso a confirmar ter ouvido denúncias do mensalão e afirmou, inclusive, ter avisado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Antes mesmo de ser arrolada como testemunha, Maria Cristina foi ao Conselho de Ética se oferecer para depor no caso. Ela sustenta que Costa Neto utilizava recursos do PL para mobiliar sua casa e que o deputado ajudou o PT a conseguir recursos de campanha em Taiwan. A disposição da ''ex'' criou uma nova preocupação:

- Temo que o conselho seja usado para brigas familiares e que tentem desviar as atenções - afirmou o presidente do Conselho, Ricardo Izar (PTB-SP).