Título: PF faz onze operações de busca
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 22/06/2005, País, p. A4

BRASÍLIA - O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) transformou-se no grande alvo da investigação do Ministério Público Federal, que agora levanta informações sobre o esquema de corrupção nas estatais e sobre o mensalão. Uma série de onze buscas e apreensões feitas pela Polícia Federal a pedido do MP, ontem, em Brasília, Rio e Paraná - além de ofícios enviados à Presidência da República pelos procuradores, com pedidos de informações - poderão ajudar a desvendar ao mesmo tempo a corrupção nas estatais e o mensalão.

Em Brasília, as buscas foram feitas na Eletronorte e no escritório e na residência do ex-presidente da empresa Roberto Salmeron, indicado para o cargo por Jefferson. Até um cofre de Salmeron foi apreendido. Na Embratur, a PF fez busca no escritório ocupado pelo ex-diretor Emerson Palmieri, ex-tesoureiro do PTB que entregou a Jefferson a chave do cofre com R$ 4 milhões recebidos pelo PT, dinheiro não declarado pelo deputado.

Segundo a PF, no Rio foi feita busca e apreensão na casa de Henry Carvalho, assessor do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). O MP não confirmou essa operação té o início da noite. O assessor foi ao encontro de Jefferson, na companhia de Arlindo Molina Gonçalves, supostamente para alertar o deputado sobre a existência da filmagem da propina nos Correios, antes da divulgação da fita. As buscas podem trazer pistas sobre eventual esquema de extorsão.

Ficou clara a intenção do MP em investigar o mensalão ontem. Quatro procuradores enviaram um ofício à Procuradoria-Geral da República, em que pedem que seja encaminhado requerimento à chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para que envie ao MP os contratos e cópias das licitações sobre publicidade e marketing da administração direta, onde se inclui a Presidência da República e os ministérios.

A investigação dos contratos de publicidade pode levar os procuradores a informações sobre o suposto esquema do mensalão. O parlamentar afirmou que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza é o operador do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, no esquema.

Em outra ponta da investigação, os procuradores de Brasília pediram aos colegas no Rio que instaurem investigação criminal para apurar os vínculos da empresa Marte Engenharia, do genro de Jefferson, Marcos Vinícius Vasconcelos, com a Eletronuclear. Ex-assessor da Eletronuclear, Marcos era um dos contatos do PTB com o ex-chefe do Departamento de Contratações dos Correios Maurício Marinho.

Quem recuou ontem em sua denúncia foi o ex-presidente do Instituto de Resseguros do Brasil Lídio Duarte. Em seu segundo depoimento à PF, Lídio admitiu ter dado entrevista em off à Revista Veja denunciando a pressão para repassar R$ 400 mil mensais aos emissários de Jefferson. Ontem, afirmou que suas declarações não são verdadeiras. Com o desmentido, escapou de indiciamento por falso testemunho.

O delegado federal Luiz Flávio Zampronha, que preside o inquérito que apura corrupção em contratos do IRB, admitiu que, com o depoimento de ontem, a investigação terá de mudar de rumo pois Lídio era considerado uma testemunha-chave. Os investigadores, agora, terão de buscar provas materiais para tentar localizar o que ele chama de ''focos de corrupção'' no IRB. Hoje, Zampronha deverá ir à sede do IRB para acompanhar uma auditoria que está sendo feita nos contratos do instituto com as empresas estatais. Dados apurados preliminarmente apontam que houve um crescimento - considerado significativo por ele - da participação da Assurê no número de contratos do IRB.