Título: Lula esvazia denúncias
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 22/06/2005, País, p. A3

LUZIÂNIA, GO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou esvaziar ontem as denúncias de corrupção no governo e de pagamento do mensalão no Congresso. Falando para uma platéia entusiasmada de trabalhadores rurais, em Goiás, disse que estão sendo feitas ''denúncias vazias'' e que têm ouvido muitas ''bobagens '' sobre o assunto. -E vejam que tudo isso que nós estamos vivendo é por conta de um cidadão que diz que pegou R$ 3 mil. Um cidadão de terceiro escalão - disse Lula, tentando diminuir o escândalo que começou nos Correios, assumiu noiva dimensão com as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o suposto mensalão e levou à queda de José Dirceu.

Depois de ouvir de líderes petistas discursos de ataques à oposição e de defesa de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se descreveu como a pessoa com mais ''autoridade moral e ética'' no país para promover mudanças que levem ao combate à corrupção. Sugeriu ainda que seus opositores têm ''medo'' de sua reeleição à Presidência, no ano que vem.

- Ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que eu para fazer o que precisa ser feito neste país - declarou o presidente, que enfrenta a pior crise política de seu governo por causa da denúncia de que o PT pagaria uma mesada a deputados aliados do PP e do PL em troca de apoio.

A fala do presidente ocorreu na abertura de um congresso de cooperativas da agricultura familiar, em Luziânia (GO), município próximo a Brasília. Cinco ministros o acompanharam.

Antes de sua fala, Lula ouviu discursos inflamados dos presidentes da Contag, Manoel José dos Santos, e da CUT, Luiz Marinho, e do ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário). Todos eles de ataque à oposição, de desqualificação das denúncias contra o governo e de elogios à figura do presidente.

A princípio, em seu discurso, Lula mostrou certa resistência para tratar das denúncias contra o governo.

- Muitos são os assuntos que poderiam me motivar, aqui, num improviso, mas eu pretendo ler algumas palavras para vocês.

A seguir, depois de ler parte do texto, demonstrou sua vontade de aproveitar a deixa dos que antecederam a sua fala.

- E como o peso da responsabilidade do presidente é maior do que o do cidadão comum, e eu não posso falar a quantidade de bobagens que se fala por aí; eu tenho que sempre esperar o momento certo para fazer as coisas que têm de ser feitas.

Ontem, na metade de seu longo discurso, Lula deixou de lado o texto preparado por sua assessoria e passou a responder às acusações.

O clima no auditório era de apoio exaltado ao presidente. A todo momento, seu nome era gritado pelos agricultores, e sua fala, insistentemente interrompida por aplausos. Antes, havia recebido uma cesta de produtos das cooperativas e colocado um chapéu de palha. Foi ovacionado nesse momento.

- Na história republicana, nenhum governo fez, contra a corrupção, 20% do que estamos fazendo - bradou o presidente.

No discurso, ele procurou sempre comparar a eficiência investigativa e punitiva de seu governo com as gestões anteriores, em especial com a de Fernando Henrique Cardoso.

Nessa linha, a seguir, falou em denúncias ''vazias'' contra o governo.

- Vamos investigar tantas quantas aparecerem. O que não pode é o governo ficar correndo atrás de denúncia vazia. Se tem denúncia contra a atuação do Congresso, é um problema do Congresso Nacional. (...) Que criem quantas CPIs quiserem criar. Agora, o que não pode é, por conta de insinuações ou ilações, você deixar de cumprir com o papel do próprio Congresso Nacional, que é o de votar os projetos que interessam ao país.

Lula mais uma vez elogiou o ''papel importante da imprensa''. Disse que seu governo não prejulga ninguém nem costuma agir com ''bravatas''.

- Todas as denúncias que forem pertinentes ao governo federal serão investigadas, contra quem quer que seja, sem bravata. Porque neste país eu já vi bravata, neste país eu já vi alguém ser eleito como caçador de marajá. E todo mundo viu o que aconteceu.

Vestido num estilo esportivo, Lula disse que a sua presença, sem terno e gravata, sempre incomodou as pessoas.

- Vocês pensam que eles não ficam incomodados porque eu estou aqui sem gravata? Porque tem um ritual, e eu sou a negação do ritual histórico que foi criado neste país, mas não pela minha roupa, porque eu até me visto melhor do que muita gente, mas pela minha origem, de onde eu vim. Isso é que faz a diferença. Os que torciam para que o governo fosse um desastre, já estão com medo hoje é da reeleição.