Título: Dilma dá o recado: só vai cuidar da gestão
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 22/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - A ministra Dilma Rousseff assumiu o comando da Casa Civil com um recado claro: a coordenação política do governo não está na sua agenda. - A articulação política é outro departamento. O meu departamento é o de gestão pública - disse a ministra, em entrevista coletiva logo após a cerimônia de transmissão de cargo no Palácio do Planalto.

Em seu discurso, Dilma já havia avisado sobre sua nova função

- É política no sentido mais nobre, o da capacidade de realizar um projeto nacional de desenvolvimento sustentado, de inclusão da população brasileira no desenvolvimento.

Tida como negociadora dura, mas hábil para tocar projetos, Dilma se encaixa com facilidade no novo perfil que Lula pretende para a Casa Civil: técnico, mas sem esquecer o lado político, fundamental para quem precisará coordenar os trabalhos de uma pasta que concentrou poderes de superministério na gestão de Dirceu. Centralizou todos os grupos de trabalho do governo, encarregados de transformar em projetos as promessas de campanha de Lula.

A cerimônia concorrida - mais de 500 convidados lotaram o salão principal do Palácio do Planalto - deixou claro que a nova ministra tem prestígio. Foi um evento rápido, com discursos breves, mas diretos.

José Dirceu, que amanhã reassume a vaga de deputado federal, despediu-se repetindo que deixa o cargo com ''as mãos limpas''. Em sua fala fez questão de elogiar Dilma, a quem chamou de ''companheira de armas'', numa alusão ao passado comum de luta armada durante a ditadura militar.

Dilma elogiou o trabalho desenvolvido por José Dirceu no cargo e afirmou que pretende assumir o papel de facilitadora para os projetos desenvolvidos pelos ministérios.

- Pretendo potencializar todo esse trabalho de implantação já realizado na Casa Civil e, sobretudo, conseguir criar um ambiente para que todas as políticas desenvolvidas por cada ministério tenham uma expressão clara para a sociedade - disse Dilma, já dando o tom de ''ordem na casa'' com que assume a pasta.

Tão logo chegue ao gabinete do quarto andar do Palácio do Planalto, a ex-ministra de Minas e Energia terá pela frente uma missão dura: tocar uma pesada lista de projetos governamentais amarrados por uma lista de dificuldades gerenciais e pela escassez de recursos, decorrente de uma política econômica restritiva . Alaém disso, a agenda legislativa está paralisada, em boa parte por culpa do próprio governo.

Além disso, Dilma Rousseff terá de enfrentar um cenário ainda mais complexo do que o encarado pelo seu antecessor, com a promessa de paralisia no Parlamento por conta da instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará o governo e da proximidade de um ano eleitoral. Para tanto, a própria Dilma conta com o que classifica como uma ''experiência construtiva'', que construiu junto ao Congresso, quando negociou com pulso firme a proposta do governo para o novo modelo do setor elétrico.

- Vi no Congresso sinais de amadurecimento institucional que me permitem acreditar na perfeita possibilidade de conjugação de uma agenda do governo com a condução de uma CPI. Não vejo razão para temer essa paralisia. Seria subestimar Congresso e o governo - afirmou.