Título: Em busca de capital humano
Autor: I. Ropero Ramirez
Fonte: Jornal do Brasil, 22/06/2005, Economia & Negócios, p. A20

Nestes primeiros anos do novo milênio, passados os solavancos provocados pelas reestruturações, fusões, aquisições, trocas de mão-de-obra por tecnologias e com a estrada pavimentada pelas crescentes exportações de produtos nacionais ¿ alimentos, bebidas, couros, têxteis, sucos, calçados e vestuário ¿, a indústria brasileira de bens de consumo busca avidamente capitais humanos de alta qualidade para suas necessidades presentes e futuras. As empresas mais conscientes de que tais carências podem afetar a sustentação do crescimento acelerado do setor têm bastante claro que a gestão do capital humano, numa perspectiva temporal de longo prazo, é tão crítica para o êxito empresarial quanto dispor de fundos a custos competitivos, tecnologia avançada e clientes satisfeitos.

Gente bem qualificada e motivada é um ativo cuja importância é cada vez mais óbvia para os que investem na indústria de bens de consumo e fator decisivo para se obter níveis de desempenho diferenciado. O capital humano ao qual nos referimos precisa ter as capacitações necessárias para competir, liderar e cumprir as expectativas de um mercado hoje cada vez mais exigente. Naturalmente, as empresas líderes do setor já perceberam isso, e algumas conhecem suas prioridades para a gestão de pessoas num mercado em disputa globalizada. Ao que tudo indica pelo ritmo de investimento, os que tardarem em dar-se conta disso ficarão irremediavelmente para trás.

A ênfase em capital humano pode ser explicada em parte pela acelerada geração de novas tecnologias e conhecimentos e pelas transformações vividas pela indústria de bens de consumo em todo o mundo. A administração de tais conhecimentos em contínuo desenvolvimento é e continuará a ser importante diferencial competitivo.

A indústria de bens de consumo, assim como outros setores altamente competitivos, já superou há muito tempo o foco nos processos e nas transações. Hoje o setor se caracteriza, sim, por processos industriais complexos, alto investimento em pesquisa e desenvolvimento, mas é sobretudo em suas estratégias mercadológicas e de distribuição que encontramos os avanços mais notáveis.

Nessas empresas, aos profissionais estão sendo requeridos altos níveis de qualificação em mercadologia e produtos, vivência global, criatividade e sofisticação técnica. O tipo de ambiente e decisões que enfrentam todos os dias exige segurança e tirocínio para analisar e decidir sobre conjuntos complexos de informações de natureza variada e mutável. Tais decisões requerem conhecimentos e também coragem, pois envolvem, com freqüência, o futuro da própria empresa. São decisões sobre alianças empresariais, parcerias estratégicas, novas tendências de consumo e preferências do consumidor, análise de riscos e mercados globais.

O contexto descrito tem deixado os profissionais de recursos humanos de cabelo em pé. Apesar de todo o esforço e investimento no desenvolvimento interno do talento e do conhecimento, eles têm recorrido crescentemente ao mercado em busca de profissionais altamente qualificados para trazer novos conhecimentos especializados. É exigido de tais talentos que tragam em seu acervo vivencial a exposição a processos de transformação empresarial e que possuam alta capacitação analítica e estratégica e visão global.

A otimização do uso do talento humano na indústria brasileira de bens de consumo tem requerido maior parceria entre empresas e universidades. O desenvolvimento do setor tem sido uma importante mola propulsora de seu contínuo crescimento e aceleração. A rapidez da mudança no setor cria oportunidades para os que quiserem acompanhar o novo ritmo.