Título: País reduz investimentos em tecnologia
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 22/06/2005, Economia & Negócios, p. A21

Na contramão do mundo, a indústria brasileira retrocedeu em pesquisa e desenvolvimento, alheia à política industrial do governo. Empresas com os piores níveis de investimento em tecnologia aumentaram a participação no valor da transformação industrial - o que se poderia chamar de PIB do setor, o total de riquezas geradas - de 50,56% em 2000 para 52,49% em 2003. São unidades que aplicam menos de 0,36% da receita em desenvolvimento tecnológico, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Industrial Anual (PIA). O dado colocou o Brasil na lanterna dos países que buscam agregar valor a seus produtos. O setor investe apenas 0,6% da receita em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, um terço do que aplicam os países ricos, com média de 1,8% do faturamento destinado à tecnologia. Só 9,9% das empresas da indústria possuem alta tecnologia.

- A pauta de exportações em expansão, ainda que venha se diversificando, apresenta forte contribuição da agroindústria, em segmentos que não possuem alta tecnologia - explica o chefe do Departamento de Indústria do IBGE, Silvio Sales. - E o consumo interno em 2003 perdeu fôlego por causa da queda da renda, afetando possivelmente os investimentos.

O economista David Kupfer, do grupo de Indústria da UFRJ, acredita que o avanço percentual das empresas com investimento em inovação muito baixo sinaliza que a indústria brasileira vive uma ''especialização regressiva''.

- Em 2003, só o setor exportador foi bem. Assim, os resultados indicam que estamos nos especializando cada vez mais em vender commodities. Num prazo maior, será difícil manter positivo o saldo da balança comercial.

Com investimento de 1,3% da receita em pesquisa, as empresas de alta tecnologia são recompensadas por uma produtividade duas vezes superior à média, aponta a PIA. A produtividade média do setor é de R$ 68 mil por cada trabalhador mensalmente. O valor passa a R$ 141 mil no grupo de atividades de alta intensidade tecnológica.

O refino de petróleo apresenta a maior produtividade. Empregando apenas 0,71% da mão-de-obra da indústria - e com pesados investimentos, as refinarias obtêm ganho de R$ 1,3 milhão de produtividade por trabalhador. O refino, sozinho, responde por 20% de todo o investimento do parque fabril, com R$ 249 milhões por empresa. Fábricas de celulose e papel, cigarros, produtos químicos e de material eletrônico e de comunicações completam o ranking da produtividade, nesta ordem. Os maiores investidores em pesquisa e tecnologia são as empresas de transporte, que destinam 2,72% da receita a pesquisas.

Os setores de alimentos, têxteis, mobiliário, mineradoras e combustíveis nucleares são atividades com baixa intensidade tecnológica. Sem aposta em pesquisas, apresentam produtividade 36% menor que a média. A receita média, de R$ 4,2 milhões, também fica aquém da média geral, de R$ 7,1 milhões.