Título: Orgulho sem proteção
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 23/06/2005, Rio, p. A13
Nas vésperas de receber a festa oficial da 10ª Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (GLBT) no Rio, os organizadores do evento denunciam a dificuldade na distribuição de preservativos gratuitos. Desde março, o Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual tenta com os governos municipal, estadual e federal a doação de 50 mil camisinhas. Sem ter o apelo atendido, eles vão distribuir os porta-preservativos personalizados e doados para o evento vazios. Pelo menos 600 mil pessoas são esperadas para o desfile domingo no Posto 6, em Copacabana. ONGs ligadas ao trabalho de prevenção ao HIV/Aids afirmam que a o problema de distribuição camisinha não está restrito à Parada Gay. Segundo Cláudio Nascimento, presidente do grupo Arco-Íris, os órgãos públicos diminuíram a quantidade de entrega dos preservativos desde o ano passado. De acordo com Nascimento, o Arco-Íris recebe mensalmente 2 mil preservativos. Há um ano, o mesmo grupo recebia 20 mil camisinhas por mês. Os preservativos eram distribuídos em 20 locais de frequência gay, entre eles, boates, saunas e praias. Segundo Nascimento, são cerca de 23 milhões de homossexuais no Brasil. No Rio, 15% dos 14.391 milhões de habitantes seriam gays.
¿ Há uma crise na distribuição dos preservativos. Desde janeiro, as ONGs e postos de saúde do Rio tiveram uma redução de 90% das camisinhas doadas pelos poderes públicos ¿ protesta Nascimento, apontando um contra-senso:
¿ A doação dos porta-preservativos foi feita através de uma parceria da Unesco e o DST¿Aids do estado, mas não temos as camisinhas. Os representantes do município, Estado e governo federal alegam que há um atraso das empresas contratadas para o fornecimento dos preservativos ¿ indigna-se Nascimento.
O coordenador do projeto de prevenção do Arco-Íris, Luiz Carlos Freitas, desconfia das desculpas dadas pelas autoridades.
¿ Parece uma manobra política para que as pessoas comprem a camisinha ¿ diz Freitas.
Vice-presidente do grupo Pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids (Pela Vidda/RJ), William Amaral, lembra que, há dois anos, o repasse de preservativos da prefeitura para a ONG era de 30 mil por mês. Atualmente, o grupo recebe entre nove e 12 mil camisinhas.
¿ Hoje, é mais fácil ganhar na mega-sena do que encontrar camisinhas nos postos de saúde do Rio. A população de rua, os profissionais do sexo e os soropositivos são as pessoas que mais procuram o Pela Vidda para pegar camisinha ¿ informa
Segundo Amaral, a escassez na distribuição das camisinhas teve o seu ápice em abril do ano passado, quando a concorrência internacional para os preservativos foi interrompida. Segundo o Programa Nacional de DST¿Aids, do Ministério da Saúde, este ano, houve um atraso de um mês no estoque dos preservativos. O problema teria ocorrido no processo de compra que é feito no exterior. Até hoje, nenhuma empresa nacional apresentou-se para licitação. Segundo o programa, em abril, foram encaminhados para o Rio 1.245 milhões de preservativos. A prefeitura informou que distribui, mensalmente, 700 mil preservativos, 80% deles são encaminhados pelo Ministério da Saúde, os outros 20% são de responsabilidade da prefeitura e do Estado. A prefeitura disse ainda que por causa atraso do Ministério da Saúde está priorizando as doações para postos de saúde e instituições. A secretaria estadual de Saúde informou que cerca de cinco mil preservativos estão disponibilizados para Parada Gay.
Segundo o Estado, há um processo de compra de preservativos em andamento.