Título: Marinho: contratos ''contaminados''
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 23/06/2005, País, p. A8

BRASÍLIA - - Filmado embolsando R$ 3 mil em propina, o ex-diretor de Contratações e Compras dos Correios, Maurício Marinho, apontou ontem, na CPI dos Correios, 17 grandes contratos supostamente ''contaminados'' por corrupção, na estatal. Entre os alvos de Marinho estão o secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e o Bradesco. Marinho pediu que os parlamentares façam uma ''avaliação'' dos contratos dos Correios com agências de propaganda, aprovados pela Secretaria de Comunicação do ''doutor Luiz Gushiken''. Uma das licitações, lembrou Marinho, foi vencida pelo empresário Marcos Valério, da SMP&B, apontado como o homem que entregaria o dinheiro do ''mensalão''. Marinho pediu ainda análise de todos os contratos de empresas terceirizadas que passam pela Diretoria de Tecnologia, ''ligada ao doutor Silvio''.

Insistindo para que os parlamentares investiguem a Diretoria de Tecnologia, Marinho pediu que seja avaliado o contrato para a construção de salas-cofres nos Correios. O ex-chefe de Contratações também colocou sob suspeita a aquisição de kits para o Serviço de Automação da Rede de Atendimento dos Correios, licitação vencida pelo Consórcio Alfa, que tem como uma das empresas a Novadata, do empresário Mauro Dutra, amigo do presidente Lula.

Marinho levantou suspeita de irregularidade em contratos para aquisição de equipamentos operacionais e também pediu que os deputados investiguem todos os contratos de transporte de cargas. Segundo ele, são milhares de veículos, aeronaves e barcos cortando o país.

- Não sei quem está por trás disso - disse Marinho.

O ex-chefe de Contratações dos Correios ''solicitou'' ainda que os deputados avaliem os contratos do Bradesco com a ECT. Segundo Marinho, a empresa Scopus, ''100% vinculada ao Bradesco'', ganhou recentemente a manutenção dos equipamentos de informática dos Correios em todo país. O banco, diz, também tem ligações com empresas que ganharam a licitação do correio híbrido postal, cartão de compras e serviços de franquia.

- Não consigo nem enxergar a malha que envolve ECT e o Bradesco - diz Marinho.

Ele pôs sob suspeita também os contratos dos Correios com empresas de seguro. Segundo Marinho, os contratos abrangem 20 mil pontos de atendimento em todo o país. Pediu para que a CPI investigue a dragagem do Porto de Santos. Marinho quer apuração da compra de máquinas para 1560 agências franqueadas nos Estados. Segundo Marinho, por trás de várias franquias está um esquema de transferência dos grandes clientes para a inciativa privada, e laranjas que representam parlamentares nas agências.

- Isso pode atingir muitos dos senhores deputados e senadores neste caso - disse Marinho aos parlamentares.

Nem os advogados do próprio Marinho, Sebastião Coelho da Silva e José Ricardo Baitello, parecem confiar no cliente. Ontem, durante o depoimento na CPI, Baitello e Silva ameaçaram abandonar a defesa de Marinho por entenderem que o cliente estava mentindo.

- O depoente está mentindo. Se ele mente para os advogados, imagina para a comissão - disse a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL).

O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) mostrou várias contradições no depoimento de Marinho, como o desencontro de datas de reuniões com Jefferson e até um atestado de saúde com data posterior ao afastamento de Marinho dos Correios.

A CPI vai pedir a cópia de todos os contratos suspeitos aos Correios. A PF vai colher novo depoimento de Marinho, que disse aos deputados tudo o que não contou aos delegados.