Título: Deputada confirma oferta para troca de partido
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 23/06/2005, País, p. A4

BRASÍLIA - Única deputada até agora a confirmar a existência de uma suposta mesada paga a parlamentares, Raquel Teixeira (PSDB-GO) afirmou ontem, no Conselho de Ética da Câmara, que recebeu oferta de R$ 30 mil mensais mais luvas de R$ 1 milhão do líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), para ingressar no seu partido. Mabel prestou depoimento ao Conselho logo após Teixeira e negou todas as acusações.

A deputada (licenciada desde janeiro por ter assumido a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Goiás), em depoimento de quase três horas, detalhou os dois encontros que teve com Mabe. Confirmou ainda que o presidente Lula foi informado pelo governador de seu estado, Marconi Perillo, sobre a proposta do PL.

- Não preciso disto. Sandro Mabel sabe a proposta que fez e eu também sei - desafiou Raquel.

Raquel admitiu, entretanto, que em nenhum momento Mabel disse que a mesada estaria atrelada à obrigação de votar favoravelmente ao governo federal.

- Mabel disse que entrar em um partido do governo traria vantagens, mas em nenhum momento foi colocada a vinculação com projetos do governo. Não houve atrelamento. O termo mensalão não foi citado - afirmou.

Segundo a ex-deputada, o diálogo aconteceu no dia 18 de fevereiro de 2004, depois de uma reunião no plenário 16 da Casa, quando o líder do PL teria feito primeiro convite para que ela ingressasse na sua legenda. O deputado teria começado a conversa dizendo que o PL queria se repaginar, ter uma cara nova. E precisava de uma mulher que fizesse diferença. Depois, ofereceu dinheiro. Ela recusou e, dias depois, Sandro Mabel teria voltado a convidá-la.

- Foi então que ele me ofereceu R$ 30 mil por mês.

Segundo Raquel, ele ainda lhe foi oferecido mais R$ 1 milhão no fim do ano.

- Fiquei perplexa, recusei e fui embora dali. Me senti muito mal, não sabia se aquilo era praxe por aqui.

A deputada licenciada justificou a demora em denunciar a proposta dizendo que era ''novata na política''. E afirmou que a única pessoa para quem contou a história foi o governador de Goiás, seu padrinho na política.

Após a conversa com Perillo, teria havido mais um encontro encontro, meses depois, numa comissão da Câmara, segundo Raquel.

- Mabel me procurou profundamente irritado. Disse que não poderia deixar de relatar o ocorrido ao meu líder político.

No depoimento, a deputada foi inquirida duramente por deputados da base governista, principalmente representantes do PL no Conselho, Edmar Moreira (RJ) e Paulo Marinho (MA). Raquel foi obrigada a admitir dois atos questionáveis: ela mantém três assessores seus no gabinete do suplente, Sérgio Caiado (PP), e manteve o marido no apartamento funcional em Brasília por quase cinco meses após ter se licenciado. Revelou ainda que recebeu uma ligação do Planalto no início do mês, mas não atendeu a chamada e não soube dizer quem telefonou.

Líder do PL na Câmara, o deputado Sandro Mabel depôs em seguida. Negou as acusações e as associou a um ''grande complô'' em função da sua possível candidatura em 2006 ao governo de Goiás. Mabel negou que tenha feito alguma ''proposta financeira'' para que a deputada Raquel Teixeira deixasse o PSDB para ingressar no PL.

- Foi ela quem me procurou para isto. Disse que tinha pouco espaço no PSDB - garantiu Mabel.

O relator Jairo Carneiro (PFL-BA) disse que, em função da grande contradição dos dois depoimentos, é provável que convoque uma acareação entre os dois parlamentares.

- A gente fica até tonto com tudo isto. Temos de ouvir com atenção, vamos avaliar tudo no final de semana e se for preciso vamos convocá-los novamente para umaacareação - afirmou Carneiro.

Ainda esta semana, o Conselho deve votar cerca de 58 requerimentos que estão na pauta. Entre eles, o convite para depor do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, que já confirmou presença para a primeira semana de julho.