Título: Claque barulhenta no plenário
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 23/06/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - O ex-ministro José Dirceu levou mais de meia hora para percorrer os pouco mais de 100 metros que separam o anexo II da Câmara da Liderança do PT, atrasado pelos cerca de 200 militantes do partido que o esperavam em seu regresso ao Parlamento. A claque deu o tom do discurso de posse de Dirceu e contribuiu para dar ao pronunciamento o cunho de ato político do PT. O ex-ministro se mostrou satisfeito.

- Faz bem para o coração da gente e para a alma - disse, enquanto tentava chegar ao gabinete da liderança.

Para os oposicionistas, o que se viu foi uma provocação do PT. Para a base governista, uma demonstração de apoio popular ao ex-ministro, demissionário depois de ser acusado de comandar o esquema do mensalão. Dirceu entrou no plenário da Câmara sob os gritos da barulhenta platéia organizada entre integrantes de entidades como CUT, MST e do PT. Da galeria, entoavam:

- José Dirceu é meu amigo. Mexeu com ele, mexeu comigo - gritavam enquanto o deputado se dirigia à tribuna.

Pouco atentos aos pedidos de silêncio da Mesa, só se calaram de todo quando Dirceu começou a falar. Como uma torcida, engrossavam o coro a cada lance mais agressivo do discurso do deputado, que fez uma defesa enfática de si mesmo, do governo Lula e não economizou alfinetadas à gestão anterior.

Dirceu falava, negava apartes e era aplaudido pela platéia, que confirmava a expectativa do ex-ministro ao chegar à Camara.

Os ânimos exaltados da militância revoltaram os integrantes da Mesa Diretora. Antes mesmo de Dirceu discursar, o vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), já havia afirmado que se os presentes não se comportassem, seriam retirados do plenário. No final do discurso, com o caos instalado, a segurança agiu e acabou detendo um delegado de polícia do Distrito Federal, identificado apenas como Júlio César.

Mais tarde, Bolsonaro disse que se manifestou por ter sido provocado. O próprio líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), teve de intervir pedindo silêncio. Sem sucesso, comentou que aquela foi uma manifestação legítima do povo.

- O termo ''claque'' reduz os sentimentos humanos em um momento como esse - defendeu Chinaglia.