Título: O tumultuado retorno à planície
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 23/06/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - O ex-ministro e hoje deputado José Dirceu (PT-SP) traçou o script de defender o governo em seu retorno à Câmara. Começou bem, tentando mostrar os supostos avanços da gestão Lula. Mas começou a provocar a oposição, escorregou em dois apartes de deputados contrários ao Planalto, reagiu, incendiou plenário e galeria - ocupada por militantes petistas - e viu a sua volta a planície se transformar em tumulto, socos, xingamentos e empurra-empurra entre os deputados. Um militante do PT também foi preso pela Polícia Legislativa. Foi o sinal de que a vida do ex-ministro na planície não será nada fácil. Com um quórum baixo - 191 deputados - Dirceu subiu à tribuna e afirmou estar emocionado ao ver seu nome novamente no painel. Disse que é mais um a defender o governo Lula e se mostrou disposto a prestar todos os esclarecimentos ao Conselho de Ética e à Corregedoria da Câmara.

O petista sustentou que não tem vergonha das alianças políticas feitas para dar sustentação ao governo, lembrando que o PT, partido de Lula, conta apenas com 91 deputados e 13 senadores. Assegurou ter vindo para manter o diálogo, especialmente com a oposição e negou que tenha rompido as negociações com PSDB e PFL, a quem agradeceu pelos votos que garantiram a aprovação das reformas da Previdência, tributária e do Judiciário.

Antes de começar a expor os números do governo na economia, provocou a oposição, afirmando que foi perseguido após o episódio Waldomiro Diniz.

- Todos sabem o que aconteceu. Mas quero lembrar que houve uma CPI no Rio, foram abertos 20 processos e em nenhum deles aparece o meu nome - provocou.

A partir daí, o Dirceu começou a cortar suas pontes com a oposição. Afirmou que o governo Lula encontrou um país sem planejamento, com o risco-país nas alturas, inflação em descontrole, sucateamento da máquina pública e ausência total de planejamento estratégico. Foi chamado de terrorista pelo deputado Jair Bolsonaro (PFL-RJ), mas seguiu em frente.

- Esse é um governo que não rouba e não deixa roubar. O presidente Lula aceitou dois procuradores-gerais da República escolhidos pelo Ministério Público. Porque não tem medo, não tem nada a esconder - desafiou. Evitou, entretanto, fazer qualquer menção às denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que o acusa de ser o mentor do esquema do ''mensalão''.

Bolsonaro começou a fazer gestos com a mão, insinuando que o governo rouba sim. Nas galerias, a militância entoou o grito de guerra petista: ''Partido, Partido, é dos Trabalhadores''. O deputado Ricardo Barros (PP-PR) pediu um aparte.

- Deputado, nós temos o maior interesse em discutir o país. Mas, neste momento, é fundamental a marca da humildade. Nós passamos oito anos do governo anterior com os muros pintados: ''Fora FHC''

O deputado Alberto Goldman (PSDB-PR) foi mais incisivo. Acusou Dirceu de querer fazer um discurso como se fosse algo que não é: presidente da República. E abriu fogo:

- Bem vindo, ex-ministro. Vossa Excelência vai tratar agora conosco no mesmo nível. Aqui, todos nós somos iguais - cravou o tucano.

Dirceu decidiu partir para a briga. Afirmou que o PSDB não quer ver um país que existe na realidade e chamou as classes empresariais para corroborar seu discurso. Defendeu a apuração das denúncias, mas disse que o país não pode parar.

Ao descer da tribuna, explodiu a confusão em plenário. Os deputados Carlito Merss (PT-SC) e Fernando Gabeira (PV-RJ) discutiam quando o deputado João Fontes (PDT-SE), segundo relato de alguns, deu um murro na barriga do petista.

- Esse cara é louco. Eu vou processá-lo na Corregedoria. O pior é que o soco doeu para valer - protestou Merss.

Fontes nega que tenha dado o soco e xingou Merss. Enquanto o circo estava armado e Severino pedia para a segurança esvaziar as galerias do plenário, Bolsonaro começou a sacudir um saco de lixo preto, escrito ''Lullão'', semelhante a logomarca de Collor. Revoltada, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) rasgou o saco de lixo e foi empurrada pelo pefelista.