Título: Petrobras quer ser grande no Golfo
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 23/06/2005, Economia & Negócios, p. A23

Prestes a concluir seu novo planejamento estratégico, que deverá ser divulgado no próximo mês, a Petrobras já tem traçado o roteiro dos novos investimentos no exterior. Além de definir como prioridade o Oriente Médio, onde pretende buscar novas oportunidades com baixo risco exploratório, a empresa anunciou que sairá de Trinidad & Tobago, onde as prospecções de óleo revelaram-se infrutíferas e os custos de produção proibitivos. Um dos gerentes da Área Internacional da Petrobras, Iran Garcia da Costa, esclareceu que, a partir de agora, a empresa buscará participações em áreas já operadas por outras companhias, em vez de tentar adquirir novos blocos, como vinha fazendo anteriormente. O executivo lembrou que, na região do Golfo Pérsico, a empresa adquiriu no ano passado o direito de explorar o Campo de Tusan, no Irã. No Norte da África, o único ativo, por enquanto, é um bloco na Líbia.

- Aquela região (Golfo Pérsico) é muito prolífica. Onde você explora, encontra petróleo. Sem contar o acesso ao mercado europeu, que é facilitado por uma infra-estrutura de transporte já existente para gás, por exemplo. Isso torna o risco de investimento muito baixo - justifica Costa, que participou ontem da 9ª Conferência de Engenharia de Petróleo da América Latina e Caribe (IX Lacpec), organizada pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás Natural (IBP).

O executivo revelou que a empresa também continua a acompanhar os acontecimentos do Iraque, no qual pretende voltar a investir um dia. A companhia chegou a descobrir petróleo naquele país, na década de 80, mas foi obrigada a sair da região, após negociações com o governo do ex-ditador Saddam Hussein, deposto em 2003. Embora Costa tenha confirmado o interesse do novo governo iraquiano em contar com a Petrobras, o executivo ponderou que as atuais condições de segurança daquele país - conflagrado por atentados terroristas - impedem qualquer movimento de aproximação da empresa.

- Quando as condições melhorarem, pode ter certeza que todos vão querer ir para lá. Inclusive a Petrobras - afirmou o gerente.

O novo planejamento internacional da companhia não prevê, no entanto, só novos investimentos. Áreas incluídas no portfólio da empresa, como Trinidad & Tobago, também serão descartadas. A decisão se justifica, segundo o executivo, pelo insucesso nos trabalhos exploratórios desenvolvidos naquele país. Lá, segundo Costa, verificou-se majoritariamente a incidência de gás natural, em lugar de petróleo. O problema é que a dificuldade de transportar o insumo torna cara sua produção, tanto para exportação quanto para aproveitamento no Brasil.

Também presente ao evento, um dos gerentes executivos da Área de Exploração e Produção da Petrobras, Jose Formigli, revelou que a norueguesa Maersk participará da produção do Campo de Bonito, operado pela estatal brasileira na Bacia de Campos. O acordo, que prevê a transferência de tecnologia para a Petrobras, permitirá a ampliação de 20% para até 30% do fator de recuperação do campo, que produz cerca de 15 mil barris diários.

Previsto para ser assinado nas próximas semanas, o acordo deverá garantir o aumento da produção do Campo de Bonito, que deverá chegar a 30 mil barris/dia.