Título: Da esperança à corrupção
Autor: Marcelo Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 27/06/2005, Outras Opiniões, p. A11

A despeito do talento dos publicitários do governo, que tentam transformar em sucesso os fracassos administrativos do PT, o fato é que o partido está se esfacelando.

O ansiado segundo mandato de Lula periga diante das lutas internas, da incompetência para governar e da evidente cumplicidade com a corrupção.

Depois de assombrada pelo fantasma do aparelhamento do Estado pelos partidos da base aliada, que resultou na CPI dos Correios, a opinião pública nacional se vê agora perseguida pelo espectro macabro do mensalão, o mais rasteiro mecanismo de aliciamento de deputados a varejo já visto neste país. O senador Antônio Carlos Magalhães afirma que ''se apurarem a fundo'' a compra de deputados ''um terço da Câmara sai''.

O escândalo assumiu tamanha proporção que o todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, teve que pedir demissão em circunstâncias, no mínimo, embaraçosas.

Contra José Dirceu, entretanto, não houve acusações comprovadas. Porém duas altas autoridades do governo, os ministros da Previdência Social e do Banco Central, estão sendo processados pelo Supremo Tribunal Federal.

O procurador-geral da República encontrou indícios consistentes de crimes cometidos pelos dois ministros e não teve alternativa senão denunciá-los.

No Supremo Tribunal, os ministros-relatores ficaram convencidos da admissibilidade das denúncias e determinaram a instauração das ações penais. Se as acusações fossem infundadas, como pretende o governo, os magistrados teriam simplesmente arquivado os processos.

As pesquisas de opinião detectam queda na popularidade de Lula e já o colocam disputando, com José Serra, o segundo turno das próximas eleições presidenciais. Ano passado, em todas as simulações, Lula ganhava no primeiro turno.

No Brasil, parecem mesmo durar pouco as esperanças depositadas pelo povo em seus mandatários. Foi assim com Tancredo, que morreu; com Collor, que foi deposto; e agora com Lula e o PT.

O Brasil é um país de baixa projeção internacional, seja histórica, cultural ou bélica. Não temos heróis, prêmio Nobel ou Oscar. Maior país católico do mundo, até hoje não temos um santo brasileiro.

O futebol é a nossa única expressão de respeito e reconhecimento no plano mundial. Foi isso que levou a seleção canarinho a desfilar em carro aberto pelas ruas do Haiti, interrompendo a matança entre os cidadãos. Foi isso também que fez o fenômeno Ronaldo embaixador da ONU para missões sociais.

O futebol é o verdadeiro orgulho da pátria, o único elo a unir todos os esforços e os desejos em prol da vitória.

Pois até com o futebol a nação sofreu nestes últimos dias. Foi pela prisão do filho de Pelé, por envolvimento com drogas. Chorando, o rei Pelé falou à imprensa: ''Eu trabalhei demais e não deu para perceber isso''.

As lágrimas de Pelé, que trouxeram à opinião pública a mesma comoção que as suas vitórias em campo, refletem a tristeza pela perda de algo precioso por mero descuido.

Da mesma forma o eleitor do PT se encontra na situação de ter perdido tudo que chegou a acreditar que tinha conquistado. Foi uma geração que se mobilizou na esperança de uma alternativa que lhe oferecesse um futuro melhor. Essa mesma geração assiste agora à desmistificação da imagem do partido dos trabalhadores, num país assolado pela corrupção e pela violência, onde o medo esmaga a esperança.

Felizmente, nenhum governo democrático é eterno. Teremos eleições no ano que vem. Sabemos agora, amadurecidos pela desilusão, que também a demagogia da esquerda não é garantia de um bom governo. Se escaparmos da tentação populista, será uma boa oportunidade de recuperar a auto-estima e devolver aos brasileiros a sua alegria de viver.