Título: Novos ares na aviação
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 19/06/2005, Economia & Negócios, p. A18
O setor aéreo nacional nunca foi tão concentrado. De acordo com os dados do Departamento de Aviação Civil (DAC), as três maiores empresas do setor (TAM, Gol e Varig) possuem uma participação de 97,6% no mercado. Mas nada que desanime as novas, e pequenas, companhias. Hoje, mais de dez empresas esperam na fila da entidade responsável pela aviação nacional o pedido de registro para alçar vôo pelas cidades do país. Entre elas, a Fly By, Samba Brasil e Web Jet.
De acordo com o DAC, das dez novas empresas, oito pretendem lançar novas linhas áreas para passageiros, tanto no mercado regular quanto no chamado charter, sem horários fixos para seus vôos.
A explicação, segundo especialistas ouvidos pelo JB, está no crescimento da economia no último ano, o que motivou muitos empresários a apostarem no negócio. A renda dos brasileiros experimentou leve melhora no período, fato que aumentou em 12% o número de passageiros nos aeroportos no ano passado. O resultado foi o melhor dos últimos três anos.
- A aviação é um reflexo da economia do país. Se a economia tem um incremento, a aviação também tem. Esses 12% são, mais ou menos, três vezes mais que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Se a economia crescer 3% este ano, a expansão na aviação pode chegar a 9% - explica Marcelo Ribeiro, da Pentágono.
Para o analista, a alta concentração pode ser explicada pela saída da Vasp do mercado. Entre janeiro e maio deste ano, de acordo com os últimos dados disponíveis do DAC, a participação das três maiores empresas do setor pulou de 84,74% para 97,64%. Enquanto Gol e TAM cresceram no período, a Varig desandou. Seu market share de 30,35% para 26,87% no mesmo período.
- A crise enfrentada pela Varig também abre possibilidade para novas empresas, que podem abocanhar parte dos passageiros. O ideal em qualquer segmento é a concorrência, porém, permanecer no mercado é o mais difícil, já que a cada oscilação cambial aumentam os prejuízos das empresas - completa Ribeiro.
Assim, além da Vasp, a Fly pediu ao DAC para parar de voar, devido a uma reestruturação interna. No ano passado, a Via Brasil, que fazia a ponte-aérea Rio-São Paulo, teve sua licença caçada por falta de manutenção de suas aeronaves.
Mas isso não parece desanimar novos empreendedores. Quem prepara vôo solo nas próximas semanas é a carioca Web Jet. Seguindo o modelo low cost, low fare, a estratégia da empresa é simplificar a operação, permitindo custos menores que das concorrentes.
De acordo com Rogério Ottoni, diretor-presidente da Web Jet, a companhia começa a voar com três aeronaves de 148 passageiros cada um. O faturamento previsto para o primeiro ano de operação é de R$ 100 milhões e transportar cerca de 500 mil passageiros.
- Teremos tarifas únicas ao longo do dia, diferente das empresas que possuem preços diferenciados de acordo com a faixa de horário e lanches simples. Não faremos programas de milhagem. Queremos nos posicionar como uma opção no mercado - adianta Ottoni.
No primeiro momento, a idéia é manter vôos para Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Depois, a companhia estuda a criação de novas rotas como Belo Horizonte, Florianópolis, Salvador e Recife.
- A concentração no país é um reflexo das poucas empresas que operam em âmbito nacional - lembra Ottoni.
Para compensar as dificuldades enfrentadas pelo setor, há no Congresso alguns projetos que prometem dar fôlego às empresas aéreas.
- São projetos como a suplementação tributária, que incentiva os vôos regionais e que não são muito lucrativos, e a criação da Agência Nacional de Aviação Civil - enumera George Ermakoff, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea).