Título: Parque Nacional de Brasília também em perigo
Autor: Adriana Bernardes
Fonte: Jornal do Brasil, 19/06/2005, Brasília, p. D10

Nem mesmo um dos maiores e mais antigos patrimônios ambientais de Brasília escapa das agressões. O Parque Nacional de Brasília, mais conhecido como Água Mineral, teve parte de sua área invadida. Hoje, o lugar é conhecido como Núcleo Rural Boa Esperança I e II, na margem esquerda da BR 020. A pedido do Ministério Público, a Polícia Federal fez um laudo para levantar os possíveis danos ao meio ambiente causados pela presença humana. O relatório mostra que houve a perda da biodiversidade, desequilíbrio local de ecossistemas, diminuição da qualidade e quantidade das águas superficiais em função de captações diretas nos córregos e abertura de poços tubulares profundos.

Também foram identificadas no relatório, dez áreas de extração de cascalho, somando cerca de 15 hectares. Parte das cascalheiras está em área de preservação permanente da borda da chapada da Contagem.

Uma análise revelou que a água está imprópria para o consumo em alguns pontos de captação. A equipe do JB esteve no local é flagrou lixo e tubulação de esgotos próximos às nascentes.

A analista ambiental do Ibama, Cristiane Horowitz, diz que as ocupações no local se intensificaram a partir de 1998 e que houve várias tentativas de se conter a urbanização.

- Existem instrumentos legais para se conter esse tipo de ocorrência. Nós autuamos, notificamos e até embargamos algumas obras. Em muitos casos esses instrumentos são ignorados. Os invasores apostam na ineficiência do Estado - declara Horowitz.

A ocupação irregular foi possível porque as cercas do parque foram recuadas décadas atrás. Pelo decreto de criação a Residência Oficial da Granja do Torto, o Parque de Exposições Agropecuárias, a Vila Weslian Roriz também estão dentro da área da reserva ambiental.

Lixão - Na outra extremidade do Parque Nacional, a ameaça vem do Lixão da Estrutural. Apenas uma estrada vicinal separa o Lixão do Parque. A área degradada pela deposição de resíduos soma 200 hectares e recebe resíduos sólidos domésticos, comerciais e até hospitalares - quando não incinerado. Estima-se que 25 mil pessoas vivam de improviso em cerca de 6 mil barracos.

Por causa do lixo, animais como cachorros e ratos são atraídos. E quando entram no parque provocam o desequilíbrio da fauna e podem disseminar doenças entre os animais silvestres.

O coordenador do Programa de Educação Ambiental do Ibama, Genebaldo Freire, preferiu se pronunciar sobre um problema que não é só do DF. A falta de educação ambiental, que segundo ele, provoca parte das agressões a natureza.

- É o analfabetismo ambiental. Por ano, treinamos 700 professores e 70% deles não têm informação alguma sobre o que significa educação ambiental. Não é culpa deles não. O Estado é quem deveria ser o provedor dessa educação.