Título: Apoio do PMDB a Lula esbarra nos governadores
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/06/2005, País, p. A2

Maioria exige do Planalto contrapartidas ligadas às sucessões estaduais.

BRASÍLIA - O PMDB inicia hoje uma série de consultas internas que poderão desaguar na ampliação do espaço do partido no primeiro e segundo escalões do governo. A tendência, até ontem, era de que a oferta feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em almoço no Palácio do Planalto na última sexta-feira, fosse examinada em convenção. Para peemedebistas, apenas essa instância seria capaz de anular decisão anterior da própria convenção partidária pela não ocupação de cargos no governo. A negociação, contudo, esbarra nas ambições personalistas que permeiam o partido, considerado uma federação de interesses regionais. A maioria dos sete governadores do PMDB condiciona o apoio a uma contrapartida do governo em assuntos relacionados à sucessão estadual em 2006. Também há quem enxergue na reforma uma oportunidade de robustecer o quinhão de aliados na Esplanada.

O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, é favorável a que o partido assegure a governabilidade de Lula, mas ainda não se pronunciou a respeito de uma eventual ocupação mais efetiva do partido na estrutura administrativa federal. Em silêncio, trabalha pelo apoio do PT à sua reeleição em Santa Catarina. Também quer a ajuda do governo para enquadrar o presidente do Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (Badesc), Renato Viana, que articula em Brasília sua candidatura ao governo do Estado.

O governo do Rio é outro que apresenta sua demanda, mais uma vez a antecipação dos royalties do petróleo, tendo como principal interlocutor o secretário de Estado, Anthony Garotinho. As costuras são complicadas uma vez que o ex-governador, interessado em pavimentar sua candidatura à presidência da República no próximo ano, é o que mais pressiona Temer a decidir pelo desembarque do partido do governo.

Aliados do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, por sua vez, articulam para abocanhar uma fatia de poder na reforma que se avizinha. É o caso do deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), que também ficaria satisfeito se fosse indicado para a liderança do partido na Câmara. A definição do novo líder ficou para agosto, numa tentativa de Temer de afinar o discurso no PMDB.

O único apoio certo é o do governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, a cada dia mais próximo de Lula e dos pensamentos que norteiam o Planalto no que diz respeito a 2006 e a sustentação no Congresso. O governador do DF, Joaquim Roriz, é contra a maior participação do PMDB no governo. Mas promete não espernear, caso a maioria decida contrariá-lo. Já o governador do Paraná, Roberto Requião, permanece enigmático na avaliação de assessores palacianos. Uma conversa com o presidente Lula nos próximos dias não está descartada.

A resposta positiva do PMDB é aguardada com ansiedade pelo Planalto pois dela depende o alcance e a direção da reforma ministerial que Lula pretende anunciar até o fim da próxima semana. A decisão do partido também dará a amplitude da rede de apoios e alianças no Congresso em torno da reeleição de Lula em 2006, embora o presidente, em reunião da última sexta-feita, tenha desvinculado o apoio agora ao projeto eleitoral numa forma de reduzir as resistência de ala do partido ligada a Garotinho. O PMDB tem hoje a maior bancada do Senado (23) e a segunda da Câmara (85 deputados).

- O presidente da República enfatizou a necessidade de o PMDB participar mais amplamente do governo e disse que o partido era indispensável para a tranqüilidade institucional do país. Por isso, queremos preservar as instituições, assegurar a governabilidade, mas precisamos consultar todas as instâncias do partido - disse Temer.

Para assegurar a sustentação do partido, o Planalto já avisou: está disposto a aumentar o quinhão do PMDB na Esplanada, de dois para quatro ministérios, reduzindo o espaço do PT na estrutura administrativa com uma ampla reforma. Nesta reforma, além de ampliar o espaço do PMDB, Lula também decidiu contemplar o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), no Ministério.

Os peemedebistas que defendem a participação efetiva no governo, com o incremento de cargos e pastas na Esplanada, sonham com as Minas e Energia, Cidades, Integração Nacional e Saúde. Também querem ''porteira fechada'', ou seja, que tenham autonomia para nomear para cargos de segundo e terceiro escalões de ministérios que porventura vierem a controlar.