Título: PCdoB: entre o apoio e a crítica
Autor: Fernando Exman e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 27/06/2005, País, p. A3

A crise política também está dividindo os partidos de esquerda que compõem a base governista. A nota aprovada na 13ª reunião da comitê central do PCdoB, reunido este fim de semana em São Paulo, dá a dimensão da ambigüidade da legenda em relação ao Planalto. Se, por um lado, os comunistas denunciam uma ''ofensiva raivosa'' de conservadores, que teria o intuito de desestabilizar o governo, de outro mostram claramente a insatisfação dos seus militantes com a a área social e a política econômica. No trecho que faz afagos à administração da qual faz parte - foi contemplado, por exemplo, com fatias generosas em estatais importantes - o partido distribui críticas aos veículos de comunicação que estariam ''reverberando'' a voz da oposição ''nessa investida para levar a esquerda brasileira ao descrédito''.

O ministro da coordenação política, Aldo Rebelo, ao intervir na reunião, tentou até dar uma dimensão histórica à argumentação. De acordo com a sua análise, a ''ação antidemocrática'' de que estaria sido vítima o atual governo não é novidade e repete táticas já usadas no passado contra presidentes ''marcados para não terminar o mandato'', como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Ao defender Lula, a nota do comitê central do PCdoB faz coro com os argumentos que vêm sendo usados pelo presidente: lembra que o governo tem sido eficiente e implacável na luta contra a corrupção, ao contrário do que teria ocorrido na administração anterior, de Fernando Henrique Cardoso.

Por meio da CPI ou de outros instrumentos, o Planalto estaria tendo todo o empenho na apuração dos fatos com a ''punição exemplar de todo aquele que tiver cometido qualquer ato ilícito''.

Usando a tática de ''um no cravo e outro na ferradura'', a segunda parte da nota abandona o tom de solidariedade incondicional. O partido diz que chegou a hora de fazer ''um verdadeiro governo de coalizão'', ampliando o leque de legendas da base de sustentação, numa crítica velada ao espaço dado a partidos como o PTB, PP e PL, os dos últimos acusados de participarem do esquema do suposto mensalão.

Depois de apoiar a entrada com mais força do PMDB na base de apoio, os comunistas partem para o ataque: ''A situação mais do que nunca exige uma ampliação imediata da composição (do governo) e alterações no conteúdo de sua orientação econômica, em particular, da política macroeconômica vigente''.

O partido condiciona a superação total da crise política, a ''uma nova formatação'' nos rumos do governo, que incluiria a condução do país ''ao caminho do desenvolvimento, com geração de empregos e distribuição de renda''.

Essa diretriz traria como prioridade medidas para melhorar ''a qualidade de vida do povo'', que atendam a pauta de reivindicação dos trabalhadores. Os comunistas não deixam de citar também a diminuição do superávit primário e a redução imediata dos juros ''que se encontram num patamar elevadíssimo''.