Título: P-Sol se reúne de olho na herança política do PT
Autor: Clarisse Meireles
Fonte: Jornal do Brasil, 27/06/2005, País, p. A4

Dezenas de militantes, dirigentes e simpatizantes do P-Sol (Partido Socialismo e Liberdade) mostraram, em pleno domingo de sol forte, entusiasmo de estudantes no encontro nacional em que delinearam prioridades e rumos do partido. Em plena crise do governo Lula e do PT, ficou claro que a legenda pretende surgir como herdeira natural da luta pela ética na política.

A crise foi, aliás, um dos principais pontos da reunião do partido, realizada ontem no Rio de Janeiro. Para não restar dúvida sobre as intenções moralizantes, o partido escolheu ontem dois eixos de luta, que vão virar slogans: Fora todos os corruptos e Fim à Política Econômica de Lula.

Os participantes tentaram avaliar o impacto com que os escândalos de corrupção vão atingir o P-Sol em sua própria gênese. O novo partido surge, afinal, no momento em que a bandeira do rigor ético, que até pouco tempo era empunhada com orgulho pelo PT, é disputada por várias legendas de direita e esquerda. Quase todas, no entanto, já integrantes históricos da máquina política.

- Boa parte da população tem munição para afirmar, com base no atual noticiário, que 'político é tudo igual', mas outra parte já identifica a senadora Heloísa Helena como alguém diferente daqueles que estão no poder - observou Roberto Robaina, membro da Executiva Nacional do P-Sol, partido formado por dissidentes expulsos do PT por votarem contra o Governo Lula, como a senadora Heloísa Helena e os deputados Babá e Luciana Genro.

- Vamos surgir no cenário político para enfrentar um aparato de anos em que as relações com o Governo se dão na base da troca de favores e dinheiro. É uma longa jornada, mas uma boa oportunidade para reorganizar movimentos sociais da esquerda de massas - afirma Robaina.

A julgar pelo encontro, o clima apaixonado e despojado de encontro estudantil ainda faz sentido no universo do P-Sol. Ali, ninguém acha démodé defender o socialismo - presente na própria sigla - e referir-se a todos os participantes como companheiros.

Em vez dos tailleurs e ternos que invadiram o armário dos petistas pós-2002, os militantes do P-Sol mantêm-se de camisetas (quase sempre a do partido, vermelha, com a letra O representada por um sol), jeans e sandálias de couro.

Em clima de contagem regressiva para ser legalizado pelo TSE - o partido só pode ser criado até um ano antes de uma eleição para concorrer a ela -, o P-Sol acredita poder fazer uma bela estréia no pleito presidencial de 2006 com a candidatura da senadora Heloísa Helena, que já aparece com cerca de 5% em algumas pesquisas de intenções de voto.

Enquanto não recebe aprovação do TSE para funcionar como partido, o P-Sol é um movimento civil, mas os dirigentes esperam para breve a mudança de status.

- Estamos concluindo o processo de recebimento de assinaturas de apoio à fundação do partido. Entregamos 507 mil assinaturas, e 284 mil já foram certificadas por cartórios, de 438 mil necessárias. Agora só dependemos do TSE - explicou Milton Temer, ex-deputado federal pelo PT, membro da Executiva Nacional do P-Sol.