Título: PMDB pressiona por mais cargos na Esplanada
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 24/06/2005, País, p. A2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou sua viagem à Colômbia, marcada para domingo num esforço para concluir até o fim de semana as negociações da reforma ministerial. Uma nova data ainda será definida. A expectativa era que o presidente do PMDB, Michel Temer, chegasse ainda ontem a Brasília para iniciar as conversas com o presidente no sentido de ampliar o quinhão do partido na Esplanada. Lula também pretende contemplar o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, com um ministério. Mas o PMDB terá de colocar um pé no freio do afã de ampliar seu espaço no governo. Convencido de que num momento de fragilidade do governo, o PMDB irá vender caro sua entrada na Esplanada, o presidente disse a auxiliares que o partido será importante para a governabilidade mas ''precisa tomar cuidado para não agir como o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti''.

- Eu sei que o momento é delicado. Mas não vou aceitar dedo na cara - teria dito segundo um ministro do núcleo político.

Em abril, Lula teve de suspender as mudanças depois que Severino exigiu publicamente o ingresso do deputado Ciro Nogueira (PP-PI) no ministério. Ontem, peemedebistas de alto coturno espalharam que o partido pretende fazer valer a sua situação de ''noiva mais cobiçada da praça'' para negociar por cima sua entrada na Esplanada.

Entre as condições estabelecidas pelos caciques para que o partido apóie no governo estão uma manifestação pública do presidente sobre a real necessidade da aliança, deixando claro por que deseja contar com o apoio do partido e uma maior participação no Ministério - hoje o partido controla duas pastas. Ambiciona pelo menos mais duas.

- Uma das pastas não pode ser a dos Esportes - fez questão de frisar um cacique do partido.

O PMDB também exige que o tratamento dispensado aos seus governadores seja o mesmo que é conferido aos chefes dos Executivos estaduais dos partidos aliados, e que tenha liberdade de atuação, sem interferência do Planalto.

A reforma, por pouco, não foi deflagrada ontem. Sob o argumento de que ''não se pode trocar a roda com o carro em movimento'', o presidente Lula abortou no início da noite o anúncio da saída do deputado Aldo Rebelo (PC do B-AL) do ministério da Coordenação Política, para ceder a função ao ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner. De acordo com um auxiliar direto do presidente, a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, o teria pressionado a promover logo a mudança em virtude da crise no Congresso.

Em conversa a sós com Aldo, contudo, Lula pediu para que o ministro continuasse trabalhando até a conclusão da reforma.

- Continuo cumprindo as tarefas da articulação política - afirmou Aldo depois da audiência.

No início da noite de ontem, rumores davam conta de que Aldo teria pedido demissão. Porém, conforme apurou o Jornal do Brasil, antes de o presidente anunciar sua permanência até o término das alterações na Esplanada, Aldo demonstrou resistência em deixar a pasta. Teria dito que só sairia se o presidente o demitisse.

A saída de Aldo da Coordenação Política deverá marcar a extinção da pasta. A função, no entanto, permanece e será exercida por Jaques Wagner.