Título: CPI de Waldomiro Diniz acaba debaixo do tapete
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 24/06/2005, País, p. A3

Depois da decisão do Supremo Tribunal Federal de obrigar o presidente do Senado a indicar os integrantes da CPI dos Bingos, criada para apurar o caso Waldomiro Diniz - ex-assessor da Casa Civil, flagrado pedindo propina para facilitar uma negociação entre uma empresa de tecnologia e a Caixa Econômica - deputados governistas e de oposição decidiram que não querem, por agora, tocar nesse assunto.

Líderes governistas e da oposição fecharam um acordo que garante a indicação de integrantes para três comissões parlamentares de inquérito que estavam engavetadas no Senado - a dos Bingos, a de Waldomiro Diniz e a das privatizações realizadas durante o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No caso dos Bingos, os indicados já foram anunciados pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em cumprimento à decisão do STF.

Apesar do acordo, as três novas CPIs não devem ser instaladas tão cedo. Governistas e oposicionistas chegaram à conclusão de que só devem sair do papel depois de concluídas a CPI dos Correios e a investigação sobre o suposto pagamento de mesada pelo PT, em troca de apoio político, a deputados do PL e do PP.

Por enquanto, o mensalão é alvo de investigação apenas no Conselho de Ética e na Corregedoria da Câmara. Mas já foram recolhidas as assinaturas necessárias para que o tema seja investigado em outra CPI.

Resta saber se será mista ou de responsabilidade apenas da Câmara, como defendem os senadores. Segundo governo e oposição, o objetivo do acordo é impedir que um excesso de frentes de apuração de supostos esquemas de corrupção na administração pública prejudique a chamada governabilidade e impeça a aprovação de projetos pelo Congresso.

- Não queremos incendiar o país nem paralisar o Senado - disse o líder da minoria, José Jorge (PFL-PE).

O aceno ao acordo partiu do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que entoou discurso semelhante ao do pefelista. O tucano, no entanto, cobrou do governo uma manifestação pública no sentido de negar motivação golpista por trás dos pedidos de CPI apresentados pela oposição.

- Se o PT não criar juízo, levará o país ao imponderável. Queremos o reconhecimento de que não somos golpistas - declarou Virgílio.

Fatura apresentada, pagamento efetuado. Da tribuna do plenário do Senado, o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), leu trechos de discurso de Virgílio proferido em 2001. Em uma das passagens, o tucano diz que um pedido de CPI atrás do outro, em eventual governo petista, poderia inviabilizar a governabilidade. Virgílio acrescenta, no mesmo discurso, que não compactuaria com tal situação, porque não é golpista.

- Quero dizer do apreço que tive hoje pela manifestação de Arthur Virgílio, contrária à linha do 'quanto mais CPI, melhor' - disse Mercadante.

Atualmente, estão em funcionamento duas CPIs mistas - a da Terra e a dos Correios. Outra de mesmo tipo será instalada terça-feira, destinada a apurar a imigração ilegal.

- É muita CPI. Não temos quadros para fazer frente a essas comissões, pois pode haver paralisação do Congresso - disse o presidente da CPI dos Correios e líder do PT no Senado, Delcidio Amaral, sobre a possibilidade de instalação de novas investigações.

As três novas CPIs foram desengavetadas em razão da decisão do STF que obrigou o presidente do Senado a indicar os integrantes da CPI dos Bingos, que vai apurar a utilização de casas de jogos de azar para lavagem de dinheiro, além da suspeita de tráfico de influência no governo por parte de Waldomiro Diniz, ex-braço direito de José Dirceu na Casa Civil, flagrado pedindo propina para o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

- Acho muito grave que a oposição recue de uma vitória e deixe a CPI dos Bingos para depois - reclamou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia.