Título: Dirceu depõe e nega envolvimento no mensalão
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 24/06/2005, País, p. A4

Um dia depois de seu tumultuado retorno à Câmara, o deputado José Dirceu (PT-SP) depôs na Corregedoria da Casa e negou ser o mentor do esquema de mensalão, como acusou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Dirceu afirmou que jamais tratou do assunto com Jefferson, só tomando conhecimento das denúncias de pagamento de mesada pelo PT a deputados da base aliada ao ler a matéria publicada no Jornal do Brasil em setembro do ano passado.

O ex-chefe da Casa Civil admitiu conhecer o publicitário Marcos Valério, da agência SMP&B, mas negou qualquer envolvimento mais direto com ele. Valério é apontado por Jefferson como um dos operadores do esquema de pagamento de mensalão. Dirceu descartou ainda participação nos acordos de repasse de R$ 20 milhões ao PTB para as campanhas municipais.

- Ele afirmou que este tipo de negociação não passava pelo governo, era tratada diretamente entre o PT e os partidos aliados - disse um dos integrantes da comissão de sindicância da Corregedoria.

O corregedor-geral da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), afirmou que o ex-ministro respondeu a todos os questionamentos feitos. Nogueira elogiou o fato de Dirceu ter atendido prontamente ao convite para depor. Acrescentou ainda que, além do mensalão, foram abordados outros assuntos, como corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), ambos atribuídos ao PTB. O petebista alega que, ao perceber a intenção do governo em jogar no colo de seu partido o esqueleto da corrupção detectado nas duas estatais, decidiu denunciar o envolvimento de Dirceu no esquema de mensalão.

- Quem soube do mensalão em 2003 e não denunciou foi o Jefferson - disse um petista.

Dirceu não quis dar mais detalhes de seu depoimento à Corregedoria. Alegou que, por ser fechado à imprensa, incorreria em crime ao expor o conteúdo da conversa, sob pena de anulação dos trabalhos da Corregedoria.

- Tudo o que foi dito em público até o momento me foi perguntado. E eu respondi a tudo - reforçou.

Dirceu recebeu na manhã de ontem o convite para comparecer ao Conselho de Ética na próxima semana, mas ainda não definiu em que dia vai depor.

- Eu ainda não pensei nisso - respondeu, secamente.

O presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), demonstrou a intenção em marcar o depoimento para a próxima quinta, dia 30, último dia de funcionamento do Congresso antes do recesso parlamentar. Na terça, está marcado o depoimento do líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE). O petebista não quis adiantar nada de seu depoimento, para não complicar ainda mais as relações partidárias.

Na quarta, será a vez do ex-líder do PP na Câmara Pedro Henry (MT). Henry é apontado por Jefferson como um dos responsáveis pela distribuição de mesada aos deputados de seu partido, do qual foi líder em 2004. Ele nega todas as acusações.

- O Jefferson, como bom advogado criminalista, quer envolver todo mundo em um problema que é dele - rebateu.

A defesa de Henry baseia-se em dois pontos. O primeiro é a garantia de que jamais se reuniu com José Múcio Monteiro (PE), Carlos Rodrigues (PL-RJ) ou Valdemar Costa Neto (PL-SP) para tratar de mensalão.

- Todos desmentiram as palavras de Jefferson. Não pode ser a versão dele contra a de quatro, isso não é possível - protestou.

O segundo seria a proposta feita ao deputado Íris Simões (PTB-PR) para que deixasse a legenda e migrasse para o PP. De acordo com o depoimento de Jefferson ao Conselho de Ética da Câmara, a proposta seria acompanhada de vantagens financeiras, com dinheiro exposto em uma mala.

- O deputado Iris também negou que eu tivesse oferecido dinheiro para ele. É mais um mentira de Jefferson - protestou.