Título: Pena máxima para crimes racistas da Ku Klux Klan
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/06/2005, Internacional, p. A12

FILADÉLFIA, MISSISSIPI - Edgar Ray Killen, 80 anos, vai passar o resto de sua vida na cadeia pela morte de três jovens ativistas dos direitos humanos na década de 60 nos Estados Unidos. Condenado na terça-feira por um júri do estado do Mississipi, onde os crimes ocorreram, Killen ouviu a sentença ontem: pena máxima de 20 anos para cada um dos crimes. O ex-integrante da organização racista Ku Klux Klan vai ter que ficar isolado em sua cela, de onde só poderá sair por uma hora por dia. Para sua própria segurança: 70% da população carcerária é de negros. A sentença foi anunciada pelo juiz Marcus Gordon, e Killen, vestido com o uniforme de prisioneiro, não esboçou qualquer reação. Após lamentar ter que anunciar pena tão severa para um homem de 80 anos, o juiz explicou que não poderia levar isso em conta na hora de tomar sua decisão e que cada uma das vidas que foram tiradas tinham igual valor.

- A lei não faz distinção de idade. Uma pessoa que tem 20 anos deveria receber uma pena mais severa que uma de 80. Se deveria, por quê? - argumentou o juiz. Em seguida, ele ofereceu aos advogados do réu a chance de fazer perguntas, mas eles preferiram ficar em silêncio. Mas anunciaram que vão recorrer para tentar baixar a pena.

O promotor público Jim Hood explicou que a sentença de 60 anos foi uma forma de manter Killen fora das ruas. Nos Estados Unidos, o réu que recebe a condenação máxima só pode pedir a liberdade condicional depois de 20 anos. Se fosse sentenciado à prisão perpétua Killen poderia pedir o benefício em 10 anos por conta de sua idade.

O promotor Mark Duncan, que atuou no caso, falou ontem ao Jornal do Brasil logo após a definição da sentença.

- O mais importante disso tudo é que esse estado, finalmente, pode mostrar ao mundo seu verdadeiro caráter - disse Duncan.

O promotor também acredita que a condenação de Killen vai abrir caminho para a reabertura de outros casos ligados a questões raciais na região, que registrou inúmeros incidentes provocados pela intolerância de grupos como a Ku Klux Klan.

Killen foi condenado por um júri - composto por nove brancos e três negros - de liderar o grupo que perseguiu, espancou e matou James Chaney, 21 anos (negro, do Mississipi), Michael Schwerner, 24, e Andy Goodman, 20 (brancos, de Nova York), em 1964. Os três estavam na cidade registrando eleitores negros.

Chegou a ser julgado em 1967, por violação dos direitos civis das vítimas, mas acabou absolvido porque um dos 12 jurados votou contra sua condenação.