Título: Eleição deixa país em encruzilhada
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/06/2005, Internacional, p. A14

TEERÃ - Os iranianos voltam às urnas hoje com um dilema. Concorrem nesse segundo turno das eleições presidenciais no Irã o moderado Akbar Hashemi Rafsanjani, que deverá receber votos de quem apoiou outros candidatos reformistas no primeiro turno, e o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, homem das forças que estão no poder em Teerã, acima do presidente. Em comum, os dois têm apenas a necessidade de atrair para a votação hoje aqueles que aderiram ao boicote no primeiro turno. Em clima de vale-tudo para atrair novos eleitores e em meio a suspeitas de que Ahmadinejad tenha ido para o segundo turno graças a fraudes eleitorais, o governo do Irã anunciou ontem a prisão de 26 pessoas por crime eleitoral. Foram registradas 104 ocorrências de irregularidades, muitas envolvendo distribuição de CDs e panfletos contra algum candidato. Entre os detidos, estava um militar que ''fez discursos contra um candidato e destruiu a imagem do sistema islâmico''.

Rafasanjani e Ahmadinejad estão, segundo pesquisas informais de intenção de votos, muito próximos um do outro. Por isso, passaram os últimos dias de campanha intensificando seu discurso.

Valeu até oferecer dinheiro, como fez Rafsanjani. Na noite de quarta-feira, ele prometeu entregar a cada família iraniana 100 milhões de riales (US$ 11 mil) em ações das empresas estatais que serão privatizadas. Como o Irã tem 14 milhões de famílias, o novo presidente precisaria de US$ 155 bilhões. Mas as famílias teriam que reembolsar o dinheiro em 10 anos.

O candidato ultraconservador, por sua vez, nos últimos dias de sua campanha tentou atrair eleitores entre aqueles que temem seu radicalismo religioso. Ele diz que a disposição de acabar com a pobreza e o desemprego, por exemplo, independe da orientação religiosa do presidente. E tem sido apresentado como uma espécie de ''Robin Hood''.

Do ponto de vista da comunidade internacional, Ahmadinejad assusta porque, se eleito, poderá assumir uma postura mais radical no que diz respeito ao programa nuclear iraniano. Durante a campanha, ele disse mais de uma vez que achava os homens que hoje tratam com a União Européia com relação ao tema são ''fracos''. Rafasanjani prometeu mantê-los nos cargos.

Ontem, numa tentativa de demonstrar que a questão tem sido tratada com transparência, o governo abriu o Complexo Nuclear de Busher a jornalistas.