Título: Blindagem reforçada
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 24/06/2005, Economia & Negócios, p. A19

BRASÍLIA - Mais do que definir o patamar de inflação a ser perseguido no ano que vem e em 2007, o Conselho Monetário Nacional (CMN) emitiu ontem um sinal claro: a crise política não vai alterar em nada a condução da política econômica. Apesar da saraivada de críticas de petistas e do setor produtivo, o conselho, formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, Antonio Palocci e Paulo Bernardo, além do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, decidiu manter a meta de inflação em 4,5% no ano que vem e em 2007. Na prática, a decisão significa que o BC manterá sob firme controle os aumentos de preços, mesmo à custa de juros estratosféricos. - Os problemas políticos devem ser resolvidos no campo político e os problemas econômicos, no campo econômico - afirmou Palocci, durante entrevista em que anunciou as metas de inflação. - Sabemos que grandes democracias passam por momentos assim, isso não é particularidade do Brasil.

O ministro disse que a política econômica não é ''espasmódica'' e que tolerar um percentual maior para a inflação resultaria em um aumento de preços ainda maior.

- Na medida em que se indica, aceita, convive e se propõe uma inflação maior, a única conquista que se obtém é inflação ainda maior. E o crescimento nunca foi estimulado dessa forma - defendeu.

A meta de 4,5% nos dois próximos anos pode ser avançada em até dois pontos percentuais, o que resulta em teto de 6,5% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, referência oficial para a inflação, medido pelo IBGE. No ano passado, a inflação foi de 7,6%. Neste ano, o IPCA acumulado já indica um aumento de 3,18% até maio.

Indagado sobre se o governo estaria, de forma indireta, sinalizando aos agentes econômicos que não conseguirá atingir o centro da meta no próximo ano (tal como tende a ocorrer em 2005) e que, por isso, teria fixado o mesmo percentual para 2007, o ministro limitou-se a repetir que objetivo é chegar em 2006 a 4,5%. Segundo ele, a opção por uma meta menor que 5% seguiu quatro referências: os preços relativos que, segundo Palocci, possuem uma estrutura menos dinâmica nos países emergentes, a eficácia dos mecanismos de controle dos preços, a capacidade de o Brasil crescer sem pressões de oferta e demanda e ainda a experiência de outros países.

Neste ano, o centro da meta para o IPCA era de 4,5% (com banda de 2,5 pontos percentuais de tolerância), mas foi elevado para 5,1%. No entanto, o mercado estima que o IPCA de 2005 deverá ficar em 6,16%. Para debelar pressões que poderiam impedir o índice de convergir para a meta, a taxa básica de juros (Selic) foi elevada de 16% para 19,75% (entre setembro e maio). A conseqüência foi a desaceleração do crescimento. No primeiro trimestre de 2005, a economia obteve uma expansão de míseros 0,3%.

Palocci destacou ainda que o modelo usado para assegurar a estabilidade não chegou à exaustão. O ministro se referiu à manutenção do superávit primário em 4,25% do PIB e à autonomia operacional do BC em agir para cumprir as metas.

- A política monetária acertou embora 11 dos 10 críticos tenham dito que o Banco Central estava errado. E o Banco Central acertou porque é sua obrigação ver primeiro. Viu que haveria pressão inflacionária (em setembro), e fez o necessário para debelá-la. E se a inflação está definitivamente debelada somente o tempo mostrará, não tenho essa resposta - observou.