Título: Quarenta homens e um segredo
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 26/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - A caça às bruxas desencadeada pela denúncia de existência do mensalão, mesada paga a deputados em troca de votos a favor do governo, provoca desconforto ao Congresso e constrangimento a integrantes do PP e do PL, colocados genericamente sob suspeita desde as acusações do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ). Nem todos se envolveram ou foram beneficiados, como ressalvou o acusador. Sem provas até agora, com o caso sob investigação pela Comissão de Ética da Câmara, a Corregedoria da Casa e uma CPI ainda a ser instalada pelo Senado, o Jornal do Brasil monta a radiografia das duas bancadas com base nas informações do presidente do PTB e em levantamento dos casos sob análise do Supremo Tribunal Federal.

Em meio às suspeitas e à apuração, deputados e senadores governistas e de oposição consideram inevitável o corte na própria carne. Na contabilidade de uns e outros, cerca de 15 deputados acabarão por ter o mandato cassado. E, realistas avaliam que a ceifa não atingirá cabeças coroadas, dirigentes e líderes partidários envolvidos. Como salienta um petebista, a perda de mandato, mesmo que não atinja a cúpula, assustará quem está abaixo no esquema.

A cada dia novas versões aparecem. A da semana passada respinga no Senado. A mesada teria beneficiado duas bancadas, na verdade, dois integrantes da Casa filiados a partidos diferentes. Na prática, é mais uma ponta que, tanto a CPI dos Correios e a futura CPI do mensalão, mais Corregedoria e Comissão de Ética terão de desvendar a partir desta semana.

Autor das denúncias, Jefferson considera que se o Parlamento for corajoso, cassará 80 parlamentares, como afirmou em entrevista ao JB. Nos corredores do Congresso, o assunto é tabu. Todos reconhecem que as denúncias são antigas, mas evitam discutir o tema em público. Nas bolsas de apostas de cassações, surgem nomes que pouco diferem dos apontados por Jefferson nos depoimentos feitos até agora. Pelo PP, despontam o presidente Pedro Corrêa (PE), o líder José Janene (PR), Pedro Henry (MT) e o deputado João Pizzollatti (SC). No PL, aparecem os nomes do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto (SP), do líder Sandro Mabel (GO) e de Carlos Rodrigues (RJ). O mentor do esquema, segundo Jefferson, seria o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu (SP).

Os apostadores divergem, contudo, sobre o destino do ex-ministro. Alguns colocam as fichas na tese de que ele cairia para salvar o Planalto da crise. Outros não chegam tão longe. Uma lista maior? Será difícil, concordam. ¿ Pode surgir um ou outro desavisado neste caminho. Mas não deve passar disso¿, acredita um deputado de legenda envolvida no escândalo.

Petistas fogem da vertente. Avaliam que, se surgir prova do mensalão, a guilhotina será maior. Dificilmente a cúpula do esquema cairia sem levar outros, imaginam. E justificam: é inocência pensar que se cassará quem paga, sem saber parte de quem recebe.