Título: Lançado o desafio da democracia
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/06/2005, Internacional, p. A15
TEERÃ - O presidente eleito do Irã, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, adotou um tom de conciliação no primeiro discurso após a vitória. Contrariando o temor de que seu governo isole ainda mais o país e traga de volta toda a repressão da Revolução Islâmica, o ex-prefeito de Teerã prometeu converter o Irã num exemplo para os países muçulmanos de como se deve exercer a democracia. E pediu que seus seguidores não saíssem às ruas para comemorar.
- Hoje é o dia em que temos que esquecer todas nossas rivalidades e as transformar em amizades. Nossa meta é criar uma nação islâmica exemplar, moderna, avançada e poderosa. Quero que o Irã se converta num exemplo de democracia para os países da região - afirmou o ex-membro da Guarda Revolucionária, que venceu o pleito no segundo turno com 61,7% dos votos, contra 35,9% dados a Akbar Rafsanjani, que até duas semanas atrás era considerado o favorito.
Já o líder da Revolução, o aiatolá Ali Khamenei, afirmou que os iranianos ''humilharam'' os Estados Unidos ao celebrar com ''transparência e democracia'' o pleito.
- Usamos todas as virtudes de solidariedade e perseverança contra a política do inimigo arrogante - disse, em discurso na televisão estatal.
Os EUA também reagiram à vitória do conservador Ahmadinejad. Em comunicado, o Departamento de Estado se declarou ''cético de que o regime iraniano esteja interessado em legitimar os desejos do próprio povo ou abrandar a preocupação da comunidade internacional''.
França e Alemanha, que conversam com Teerã sobre o programa nuclear, tinham a esperança de que, se Rafsanjani fosse eleito, o Irã iria suspender seu programa de enriquecimento de urânio em troca de uma maior integração política e econômica com o Ocidente. Mesmo assim, Berlim declarou que espera a continuidade, com Ahmadinejad, das reuniões sobre o programa nuclear. Porém, o ministro de Relações Exteriores, Joschka Fischer, criticou o processo eleitoral, pela ''exclusão de vários candidatos''.
Mas para os EUA, há poucas esperanças. ''Com a conclusão das eleições iranianas, nossa opinião se mantém: o Irã não está no mesmo compasso de liberdade dos demais países do Oriente Médio'', acrescentou o Departamento de Estado.
O derrotado Rafsanjani, por sua vez, queixou-se de ''truques sujos'', mas disse que não vai apresentar um protesto formal:
- Eu não pretendo reclamar com os juízes que não querem ou não podem fazer nada. Vou reclamar apenas com Deus.