Título: O epicentro da ajuda
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 26/06/2005, Internacional, p. A16

Por estar exatamente de frente para o epicentro do tremor submarino que causou o tsunami, a Indonésia ¿ em especial a província de Aceh ¿ foi o país mais castigado pela tragédia. Na fase de emergência, a principal tarefa era dar comida, água, atendimento médico e abrigo para as vítimas. Seis meses depois, os moradores de Aceh reclamam da lentidão na reconstrução de escolas e de casas para moradia definitiva. ¿ O trabalho está entre emergência e reconstrução. As necessidades básicas estão satisfeitas. É hora de restaurar as comunidades, para trazer o sentimento de familiaridade de volta ¿ afirma Mike Rea, do fundo americano Give2Asia, que envia dinheiro para ONGs locais.

Mas o presidente da Care Canadá, John Watson, ressalta que ¿levantar casas não significa simplesmente construir¿ nesta área de constante risco sísmico.

¿ Temos que garantir que as casas serão preparadas para resistir a maremotos e terremotos. Assim, haverá menos perda de propriedade no futuro ¿ diz.

Rea lembra ainda que a fase de reabilitação é mais complicada politicamente do que o auxílio imediato. No caso de Aceh, a proposição ganha mais veracidade. A província é palco de confrontos entre rebeldes separatistas e o Exército de Jacarta. Na semana passada, uma voluntária da Cruz Vermelha foi baleada quando dirigia à noite. Ambas as partes em conflito se culpam pelo incidente. Os separatistas afirmam que as autoridades querem restringir a movimentação dos membros das ONGs. Mas a Care, que trabalha em parceria com o governo desde 1967, afirma que não teve problemas de atraso na ajuda humanitária em Aceh.

Mesmo com o fim da fase emergencial, o Programa Mundial de Alimentação (PMA) planeja ficar na província por mais dois anos, até que a maioria das famílias tenham recuperado seu meio de subsistência. Desde dezembro, o programa da ONU já ajudou a alimentar 750 mil indonésios. O foco agora será nutrir mães, grávidas e bebês, além de 340 mil crianças em escolas primárias.

¿ A idéia é que as crianças tenham uma refeição forte na escola, para se concentrarem no estudo. É um esforço para diminuir a pobreza. Vão receber também biscoitos com adição de 13 vitaminas e minerais ¿ explica Barry Came, do escritório do PMA em Jacarta.

Adultos podem entrar no programa ¿Comida por Trabalho¿. Eles receberão refeições em troca de ajuda na reconstrução dos prédios.