Título: Tsunami: vida que segue
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 26/06/2005, Internacional, p. A16

Exatos seis meses após o tsunami que deixou um rastro de 235 mil pessoas mortas em 13 países da Ásia e da África banhados pelo Oceano Índico, começa a fase de reconstrução das áreas devastadas. As nações que mais sofreram com a gigantesca onda gerada por um terremoto submarino de 9,3 graus na escala Richter foram a Indonésia ¿ o sismo aconteceu em frente à província de Aceh ¿, o Sri Lanka, a Tailândia, a Índia e as Ilhas Maldivas. Foi principalmente nelas que as organizações humanitárias concentraram, desde 26 de dezembro, o trabalho de ajuda emergencial aos sobreviventes. No entanto, a solidariedade mundial se estendeu a Bangladesh, Quênia, Madagascar, Malásia, Myanmar, Ilhas Seychelles, Somália e Tanzânia ¿ também atingidas pelo maremoto. ¿ Serão necessários 10 anos para reconstruir tudo que foi perdido e reabilitar as condições de vida das vítimas do tsunami. É uma tarefa bastante longa ¿ alertou o coordenador de ajuda emergencial da ONU, Jan Egeland.

É da ONU a missão de organizar o trabalho das mais de 200 ONGs locais e internacionais que atuam desde o tsunami no Sudeste da Ásia. De acordo com James Rawley, especialista do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apenas para os cinco países mais afetados são necessários mais US$ 10 bilhões até que a reabilitação esteja completa. E apesar de Egeland ter afirmado que os 90 doadores internacionais se comprometeram em verter US$ 11 bilhões, parte deste dinheiro ainda não chegou ao destino. A União Européia, por exemplo, um dos maiores doadores, vai dar, nos próximos anos, US$ 2,7 bilhões.

¿ Nosso foco é na reconstrução ¿ justificou o comissário da UE para Ajuda Humanitária, Louis Michel.

Até agora, a ONU recebeu US$ 3 bilhões para suas operações na Ásia. A isso soma-se a verba de US$ 2,8 bilhões arrecadada por várias ONGs, além do US$ 1,9 bilhão que foi doado à Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha. Essas cifras incluem as doações feitas tanto para a emergência, que já terminou, como para reconstrução e recuperação. O que preocupa é que, para estas fases seguintes, há atualmente apenas US$ 3,9 bilhões garantidos.

Dos US$ 10 bilhões necessários, a maior parte (US$ 5,3 bi) será dirigida para a Indonésia, onde mais de 120 mil pessoas morreram por causa do maremoto. Para o Sri Lanka estão previstos outros US$ 2 bilhões, US$ 1,2 bilhão para a Índia e US$ 400 milhões para Maldivas. A Tailândia preferiu não divulgar em relatório oficial o quanto precisa para reabilitar a província de Phuket. Lá, o trabalho de reconstrução do crucial setor turístico começou logo no início de janeiro, com orçamento próprio e contribuições. O governo criou o Fundo de Recuperação do Tsunami, com o objetivo de arrecadar US$ 72 milhões, mas até a semana passada tinha recebido menos da metade: US$ 34 milhões.

A esperança é que o ímpeto solidário mostrado pelos doadores logo após a tragédia não desapareça. Apesar de a ajuda emergencial ter sido um sucesso, ainda há muito a ser feito.

¿ A coordenação entre ONGs e governos ajudou a evitar a eclosão de epidemias e fome entre centenas de milhares de sobreviventes. Mas a natureza do desastre, o enorme número de mortos, a grande perda de terras férteis, documentos e bens pessoais, combinados com o conflito civil e a pobreza que já existia em várias áreas mesmo antes do tsunami, criaram desafios complexos. Auxílio a médio e longo prazo são fundamentais ¿ explica ao JB Lurma Rackley, da organização Care.

¿ A meta é abrandar as condições de pobreza anteriores ¿ concorda Jeremy Hobbs, diretor-executivo da Oxfam.