Título: Crise do mensalão atinge partidos no DF
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 26/06/2005, Brasília, p. D1

A pouco mais de três meses do prazo estipulado pela Constituição Federal para as filiações dos futuros candidatos nas eleições de 2006, a indefinição no cenário político é grande. As denúncias do presidente licenciado do PTB Roberto Jefferson (RJ) sobre o mensalão, espécie de mesada de R$ 30 mil que seria paga pelo PT a parlamentares da base governista, embaralharam as cartas no Palácio do Planalto e no Congresso Nacional, e os reflexos em âmbito local já são esperados. As legendas que estão no olho do furacão - PTB, PL e PP - trabalham para não perder filiados e estão na expectativa de que a proximidade com o governador Joaquim Roriz não afete seu desempenho nas urnas.

- Tudo isso é ruim para a instituição partido, que está em xeque. Se as investigações não se aprofundarem e não houver punições, será uma instituição falida para a população. E partido é coisa séria - avalia o deputado federal Jorge Pinheiro, presidente do PL-DF, ressaltando que a situação é ''constrangedora''.

Único representante da sigla na bancada candanga, Pinheiro faz questão de frisar que desde que deixou a Secretaria de Meio Ambiente do DF e reassumiu seu mandato, em julho do ano passado, nunca tinha ouvido falar em mensalão.

O pastor evangélico acredita que o cenário nublado deve começar a clarear apenas em agosto, quando terá início a tradicional dança das cadeiras. Sem citar nomes, ele afirma que está negociando a vinda para o partido de distritais com mandado. O PL elegeu dois representantes na Câmara Legislativa em 2002 - Eliana Pedrosa e o atual presidente, Fábio Barcellos, que migraram para o PFL. Hoje conta com apenas um distrital, Aguinaldo de Jesus.

No PP a pendenga é ainda maior. O ex-vice-governador Benedito Domingos, dirigente do PP-DF, vem disputando há um mês a presidência do partido com o senador Valmir Amaral. Há duas semanas, Benedito inflamou ainda mais a discussão ao dizer à imprensa que recebeu uma proposta financeira do deputado Pedro Henry (MT) para liberar a presidência para Amaral, o preferido da Executiva nacional.

Apesar de a disputa ainda tramitar na Justiça Eleitoral, onde Benedito protocolou a nova executiva regional eleita à revelia na direção federal, o ex-vice no GDF não acredita que o partido será abalado.

- Temos nomes de grande tradição política aqui no DF e que não estão envolvidos nas denúncias. Estamos em harmonia e paz - afirma Benedito, que após as declarações à imprensa chegou a ser ameaçado de expulsão. O PP tem a quarta maior bancada na Câmara dos Deputados, com 55 parlamentares. No DF, porém, elegeu apenas dois distritais: Júnior Brunelli e Wigberto Tartuce, licenciado para ocupar a Secretaria de Relações entre Poderes.

O secretário do Trabalho Gim Argello, correligionário de Roberto Jefferson, acredita que o escândalo mensalão ''não ajuda nem atrapalha'' as costuras do PTB local para novas filiações.

- Vemos gente na rua cumprimentando Roberto Jefferson, mas de 100 pessoas foram na casa dele querendo se filiar. Muita gente acredita no partido - afirma o presidente do PTB-DF, garantindo que tem pelo menos seis ''bons nomes'' engatilhados para concorrer em 2006. E, se em âmbito federal o PTB compõe a base do governo petista, na capital a estratégia para blindagem contra os escândalos é colar no governador Joaquim Roriz.