Título: Na Asa Sul, faltam investimentos
Autor: Adriana Bernardes
Fonte: Jornal do Brasil, 26/06/2005, Brasília, p. D4

Aos 74 anos ''bem vividos'', como faz questão de frisar, Maria Regina garante que tem mais energia do que muitas garotas de 20. Entre as inúmeras tarefas que realiza, está a luta pela criação e implantação do Parque de Uso Múltiplo da Asa Sul. Ela é secretária da Associação dos Amigos do Parque da Asa Sul, uma entidade que surgiu a partir da luta moradores para que a área, com nascentes e uma lagoa, fosse preservada. Após cinco de discussões e alguns protestos, Maria Regina - assim como os outros moradores - tem do que se orgulhar. O decreto de criação foi publicado em setembro de 2003. O parque fica na 613/614 Sul, entre as vias L4 e a L2, numa área de quase 22 mil hectares e já foi cercado. Mas continua sendo um exemplo de parque que ainda só existe no papel.

- Falta o plano de manejo e infra-estrutura mínima para que a população possa desfrutar. Em 2004, o deputado Augusto Carvalho fez emenda de R$ 150 mil para que fossem aplicados no parque. Essa verba se perdeu. Para esse ano, ele fez outra emenda de R$ 210 mil e até agora nada - reclama Maria Regina.

Segundo ela, na última reunião com o secretário da Ênio Dutra, ele garantiu que o plano de manejo ficaria pronto em julho. E que a verba seria usada para construir guaritas e pista de cooper. Uma das promessas que não agrada aos moradores é a de esvaziar a lagoa do parque para retirar o lixo.

- Temos medo que a água não volte. Essa pode ser uma desculpa para que o parque seja desativado. Só vamos permitir que se faça isso depois de ouvirmos outros técnicos. Estamos de olhos e ouvidos bem abertos. Não vamos permitir que essa área volte a ser ameaçada - afirma Maria Regina.

À beira da nascente, e até sobre ela, o que não falta é lixo. Sacos e garrafas plásticas comprometem o ambiente. Na superfície da lagoa se forma uma espécie de nata de sujeira para não mencionar as garrafas pet que bóiam por todos os lados.

Apesar da poluição, há quem se arrisque e pesque na lagoa, cujas águas desembocam no Lago Paranoá. Domingos Lacerda é um deles. Indagado se morava no parque, foi lacônico ao responder que não, evitando falar mais sobre a área.

A situação do Parque da Asa Sul está longe dos objetivos é bem diferente dos objetivos de criação do parque, que no papel tem como proteger e recuperar os recursos hídricos, assim como a vegetação nativa. Segundo Laura Cavalieri, do Instituto de Educação Socioambiental (Iesambi), nem uma coisa nem outra foi feita.

O coordenador do Núcleo de Estudos Ambientais da UnB, professor Gustavo Souto Maior, explica que há alguns anos, no local funcionava um lixão. Por isso o nível de poluição deve ser alto.

Ênio Dutra reforçou o compromisso assumido com os moradores da Asa Sul de entregar concluir o plano de manejo e construir a pista de cooper e duas guaritas. Sobre o esvaziamento da lagoa, Dutra esclarece que o assunto está sendo discutido por técnicos da Comparques, mas que a limpeza através do mergulho, é inviável por causa da poluição.