Título: Passe livre. Passagem impedida
Autor: David Alves e Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 25/06/2005, Brasília, p. D1

A confusão começou no trânsito. Por volta das 13h30, horário em que centenas de pessoas voltavam do almoço para os locais de trabalho cerca de 100 estudantes dos ensinos médio e fundamental marchavam pela W3 Sul, a caminho da rodoviária. Mobilizado, o Batalhão de Trânsito montou uma operação especial para desviar os carros, que começaram a se amontoar no Eixinho e na W4. Alguns motoristas passaram mais de meia-hora ao presos nos engarrafamentos. Nesta mesma hora, uma marcha semelhante vinha da L2 Norte. Era engrossada não apenas por secundaristas, mas também universitários. O ponto de encontro era o mesmo. A mote do protesto também. Empunhavam faixas em defesa do passe livre estudantil e da redução das tarifas cobradas no transporte público coletivo. A manifestação foi organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL) que, garantem os integrantes, é apartidário.

Os estudantes - nessa hora somavam quase 300 - juntaram-se no cruzamento entre o Eixão e o Eixo Monumental, acima do viaduto que liga os eixos sul e norte. Foi quando começou a segunda confusão. A Polícia Militar, então reforçada com 100 homens, queria garantir o fluxo de veículos ao menos em uma faixa do Eixo Monumental. Os manifestantes pretendiam bloquear toda a passagem. Estava armado o confronto.

Quatro policiais e alguns estudantes feridos foram atendidos no Hospital de Base. Um manifestante de 29 anos foi detido e encaminhado à Delegacia de Repressão a Pequenas Infrações (DRPI). Segundo policiais, ele é professor.

Os estudantes não estavam organizados. Nem indicaram um interlocutor.

- Estamos brigando pelo passe livre desde outubro do ano passado. E quanto a esse aumento da passagem, viemos protestar porque é inescrupuloso - explicava uma jovem franzina, lápis nos olhos, tranças nos cabelos. Puxada pelo braço por um colega, ela preferiu não se identificar. ''Decidimos em assembléia que não falaríamos com a imprensa'', justificou o menino.

Em nota distribuída, eles chamam a população para a mobilização, dando os exemplos de cidades como Salvador, Blumenau e, principalmente, Florianópolis, onde a grande participação popular impediu aumentos nas tarifas. Fazem outras reivindicações, como adaptação dos transportes a portadores de necessidades especiais, interligação dos terminais rodoviários, renovação e ampliação da frota.

Na Câmara Legislativa tramita um projeto de lei de autoria do deputado Paulo Tadeu (PT), apensado a outros, para instituir o passe livre. A proposta aguarda a vez na pauta da Comissão de Assuntos Sociais. Segundo o distrital, a proposta prevê que o GDF arque com o ônus de R$ 70 milhões anuais com o passe livre. E, a pedido dos estudantes, ele deverá retirar o PL da Casa assim que um projeto de inciativa popular for protocolado, tão logo o abaixo-assinado em prol da causa alcançar as 10 mil assinaturas necessárias.

Para quitar os 8,5% de aumento acertados com os rodoviários, empresários do transporte querem reajuste nas tarifas de 37%, em média, o que faria a passagem de R$ 2,50 saltar para R$ 3,30, por exemplo.

Após a tumulto, os estudantes ficaram no pátio dos ônibus, cercados pela polícia. Assim que o sol começou a se por, os meninos e meninas voltaram para casa.