Título: Zona Sul coberta pelo arco-íris
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 25/06/2005, Rio, p. A13
O grande dia ainda não chegou, mas o Rio de Janeiro já está colorido pelo arco-íris. Na tarde de ontem, 48 horas antes do início da 10ª Parada do Orgulho GLBT Rio 2005, as areias da Praia de Ipanema na altura da Rua Farme de Amoedo, conhecido reduto gay da cidade, fervilhavam com grupos de amigos ansiosos pelo domingo. As comemorações da terceira maior festa da cidade, atrás do carnaval e do réveillon, que este ano promete reunir 800 mil pessoas, na prática começam junto com o fim de semana. De ontem até domingo, dez festas esquentam as noites dos participantes da parada. Durante o dia, um banho de mar para recuperar as energias.
Desde o início da tarde, o movimento já era bem maior do que o normal na orla. Ronaldo Cordeiro, 26 anos, vendeu duas vezes mais sungas do que em uma sexta-feira de inverno. Os modelos mais procurados nos últimos dias foram os confeccionados especialmente para a parada.
- Acabei de conversar com uns amigos que chegaram de São Paulo e eles disseram que o avião estava cheio de gays. Pelo visto, será um sucesso - comentou o vendedor. - Pena que não há uma divulgação maior. Cheguei cinco dias antes da parada de São Paulo e havia uma faixa enorme na Avenida Paulista saudando os participantes. Aqui não encontramos nada parecido.
A falha na divulgação é evidente principalmente entre os turistas estrangeiros. A maioria só soube da comemoração quando estava na cidade. Foi o caso de Jonathan Valence, 26 anos, e Henry Willian, 30 anos, dois novaiorquinos que estavam arrasados por não terem conseguido transferir a passagem de volta, marcada para hoje.
Uma exceção foi o chileno Davi Chorizola, 33 anos, que mudou a data de sua vinda ao Rio porque amigos cariocas o avisaram sobre o evento.
- No Chile, a parada deste ano teve 2 mil pessoas. Será delicioso comemorar ao lado de milhões. O Rio é uma cidade que acolhe os gays - disse Davi, enquanto ostentava ao redor do pescoço uma canga com as cores símbolo do movimento.
As amigas Mônica Adolphsson, 41 anos, que freqüenta a parada desde sua primeira edição, e Letícia Galvão, 27 anos, moradoras de Petrópolis, aguardam hoje quatro amigas que virão de São Paulo especialmente para o desfile.
- Temos festas programadas para todos os dias. Nossa pré-parada será em um quiosque na Praia da Barra - contou Letícia.
Apesar de toda comemoração, não dá para esquecer quanto preconceito há para derrubar.
- Quando você sai dos limites da festa, dá para sentir na pele a intolerância das pessoas. No ano passado, eu e o meu namorado ouvimos xingamentos enquanto caminhávamos de Ipanema até o começo da parada, em Copacabana - conta Ronaldo Cordeiro.
Mônica acredita que eventos desse tipo são uma importante forma de auto-aceitação:
- Na primeira parada, o que me deixou mais feliz foi enxergar que eu não estava sozinha. Existiam muitas pessoas iguais a mim. Isso dá coragem.