Título: Deputados vão ao STF por italiano
Autor: Gustavo de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 25/06/2005, Rio, p. A14

Uma comissão de parlamentares vai se encontrar na semana que vem com o ministro Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal. O objetivo é pedir pressa no julgamento do pedido de extradição do produtor cinematográfico e sociólogo Pietro Mancini, de 56 anos, que foi preso quarta-feira pela Interpol-Rio. Os deputados estadual Carlos Minc e federal Chico Alencar, ambos do PT, decidiram ontem formar a comissão, que terá ainda a presença do deputado Fernando Gabeira (PV), do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e do secretário municipal de Urbanismo do Rio, Alfredo Sirkis. Os quatro se encontraram ontem ao acaso no Presídio Ary Franco, em Água Santa, onde foram visitar Mancini. Os dois primeiros dias do italiano - que divide uma cela com o cantor Belo, condenado por associação para o tráfico de drogas - foram dramáticos: Pietro, como é mais conhecido, chegou a desmaiar no primeiro dia, quando ficou em uma cela no térreo com mais de 30 presos e apenas 18 camas, como relatou o deputado Carlos Minc.

- Os presos tinham que dormir no chão. Pietro ficou dormindo com frio e acabou desmaiando com o mau cheiro.

Minc contou também que Pietro continua assustado e sem entender os motivos pelos quais está preso. O fato de haver uma divisão do tráfico oficial no presídio - fato constatado pelo deputado - ainda preocupa o italiano e sua família.

- Tudo é dividido por grupos: 238 são do Comando Vermelho e ficam em uma galeria. Na Galeria A, ficam os 103 que são do Terceiro Comando e em outra ficam os da facção Amigos dos Amigos (ADA). E não é em um canto não, é na sala da guarda, em um quadro de avisos, escrito a giz - diz Minc.

O próximo passo da defesa de Mancini, que será assumida pelo criminalista Técio Lins e Silva, é encaminhar ao ministro Marco Aurélio Mello, do STF - encarregado do caso - o diploma de sociólogo para que o produtor possa ficar pelo menos no Ponto Zero, em Benfica, prisão destinada a policiais infratores e detentos com curso superior.

Uma das tristes ironias do caso - que, na opinião de Minc, consiste em revanchismo do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi - é que Pietro acaba de finalizar o documentário Angelo Espelho da Memória, que é sobre a migração cultural italiana para o Brasil.

Para o deputado Chico Alencar, o temor de parentes e amigos não é pela extradição, já que o caso tem precedentes (outros quatro italianos na mesma situação venceram no STF por 11 a 0):

- O problema é o tempo que ele vai passar na cadeia, pois estes julgamentos costumam demorar. Pietro é um bom brasileiro, tem a vida estabelecida e uma filha brasileira. Visitar o Pietro, para mim, é como flagrar uma injustiça total. A legislação italiana é atrasada e rancorosa.