Título: Juro encolhe crédito a empresa
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 25/06/2005, Economia & Negócios, p. A17

BRASÍLIA E RIO - O efeito desejado pela política monetária, de restringir o crédito com elevação de juros para segurar a inflação, começa, enfim, a aparecer. Mas, por enquanto, apenas o setor produtivo foi atingido. Dados do Banco Central mostram a estagnação na concessão financiamentos para empresas. Entre abril e maio, o volume de crédito disponível para pessoas jurídicas caiu de R$ 169,6 bilhões para R$ 167,9 bilhões - queda de 1%, a primeira no ano.

Em agosto, os bancos cobravam, em média, 28,8% ao ano nos empréstimos a empresas. Em maio, subiu pelo sexto mês seguido, a 33,7% ao ano.

Já entre pessoas físicas, porém, houve uma elevação: no mesmo período, o saldo passou de R$ 129,8 bilhões para R$ 134,4 bilhões. Esse resultado, porém, foi influenciado pelos empréstimos com desconto em folha de pagamento, que registrou expansão de R$ 1,3 bilhão no mês passado, mesmo com o avanço da taxa de juros.

- O crescimento ocorrido com as pessoas físicas é basicamente do crédito consignado - diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

A menor oferta no caso das empresas, segundo Lopes, é resultado do aumento dos juros básicos da economia - entre setembro e maio, a taxa Selic subiu de 16% ao ano para 19,75%, patamar em que se encontra até hoje.

- A política monetária tende a restringir o crédito.

Lopes disse que o crédito a empresas sofreu influência de outros dois fatores. Um deles é a queda do dólar. A valorização do real de 5% no mês de maio teve influência direta em um terço dos financiamentos, atrelados à moeda, reduzindo o endividamento do setor privado.

Além disso, o BC retirou do levantamento de maio a carteira do Banco Santos, que teve sua liquidação extrajudicial decretada no mês passado, o que excluiu R$ 2 bilhões das estatísticas.

Já para pessoas físicas, a taxa média passou de 64,5% ao ano em abril, para 65,7% ao ano no mês passado. Ao mesmo tempo, o volume de recursos teve um incremento de 3,5%, para R$ 134,4 bilhões.

Nas operações de crédito pessoal, a alta foi de dois pontos percentuais, atingindo 77,2% em maio. Já as operações de crédito consignado estão cobrando menos 0,9 ponto percentual nas operações consignadas, passando para 35,6%. A taxa de juros do cheque especial ficou estável no mês passado, em 147,6% ao ano.

A notícia desagradou aos críticos habituais os juros aplicados na economia. O vice-presidente da República e Ministro da Defesa, José Alencar, voltou a atacar a política monetária do governo. Para ele, não existe taxa de juros capaz de achatar o consumo de quem não consome, referindo-se às camadas pobres da sociedade.

- Sessenta e cinco por cento os brasileiros têm poder aquisitivo apenas para o subconsumo - observou.

Para ele, não há taxa de juros capaz de combater o aumento de preço provocado por força de indexação. E condenou as cláusulas de reajuste de concessionárias de serviços públicos. Nesses contratos, os índices utilizados são os Índices de Preços ao Consumidor (IGP), que carregam o peso das variações de preços no atacado.

- Isso permitiu aumentos brutais nos custos de energia e de telefonia. Nunca poderia ter existido cláusulas de reajuste nessas concessões.