Título: 'Deus me salvou', diz moradora
Autor: Waleska Borges e Ana Paula Verly
Fonte: Jornal do Brasil, 28/06/2005, Rio, p. A13
Desde a prisão do traficante Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu, em 31 de dezembro do ano passado, a Rocinha passava por um período de aparente tranquilidade. Na manhã de ontem, no entanto, o local voltou a ser praça de guerra. Até o início da tarde, policiais que estavam no asfalto trocavam tiros com os traficantes, posicionados na parte alta, provocando pânico e correria entre os moradores. O trânsito da Auto-Estrada Lagoa-Barra ficou fechado nos dois sentidos por 10 minutos, por volta das 8h, e precisou ser desviado para a Avenida Niemeyer, que ficou congestionada. Policiais do 23ºBPM (Leblon) deram apoio à ação da Core, ocupando os acessos à favela. O pedreiro José Ricardo da Silva, de 22 anos, ficou no fogo cruzado e foi atingido de raspão no rosto em frente a uma sapataria, na Rua Servidão Leste, próximo à passarela que liga as margens da auto estrada. Ele foi socorrido pelos policiais e levado para o Hospital Miguel Couto, na Gávea. Uma vendedora que não quis se identificar contou ter escapado do disparo.
- Estava varrendo a calçada quando ouvi os tiros. Só deu tempo de correr para dentro da loja. Ele caiu na minha frente. Deus me salvou - relatou, acrescentando que não deixou o filho ir à escola, temendo o tiroteio.
Durante a ação, Cláudia de Mendonça, 27 anos, também foi baleada de raspão na barriga e levada para o Miguel Couto. Na localidade conhecida como Cachopa, Michel Duarte de Souza, 24 anos, acusado de ser ligado ao tráfico, levou um tiro na perna e foi levado para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Durante todo o dia, traficantes soltavam fogos para avisar sobre a movimentação da polícia, que fez buscas nas matas para prender integrantes do bando de Bem-te-vi.
Devido aos confrontos, cerca de 100 moradores ficaram impedidos de subir para suas casas. Alguns protestaram contra a ação da polícia.
- Eles chegaram aqui atirando. Não pude ir para a escola hoje e agora que desci não posso voltar. Sempre que tem operação é assim - disse um morador, que não quis se identificar.