Título: Helicóptero cai em faculdade
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/06/2005, Rio, p. A14

Um helicóptero da Marinha caiu no início da noite de ontem sobre o Centro Metodista Bennett (UniBennett), no Flamengo, na Zona Sul. O acidente, que culminou com a morte de dois capitães-tenentes, aconteceu por volta das 19h, quando havia cerca de 1.500 pessoas dentro da faculdade. Não houve feridos, apesar de um dos prédios ter sido danificado. A aeronave, modelo IH-6B, decolou de São Pedro d¿ Aldeia, na Região dos Lagos, com dois tripulantes, ambos de 31 anos, que acabaram morrendo carbonizados com a queda. São eles: Adriano Emerim Pinna e André Estácio de Freitas. De acordo com a Marinha, o helicóptero ¿ um Bell Jet-Ranger 3, de fabricação americana e canadense com velocidade de até 180 km/h ¿ ia em direção ao Aeroporto Santos Dumont, no Centro, num vôo de instrução.

A torre de controle do Aeroporto chegou a ser informada do local exato da queda por tripulantes de uma aeronave do Grupamento Aeromarítimo (GAM) da PM, que faziam um vôo de manutenção. Segundo o comandante do GAM, tenente-coronel Marcos Oliveira, os PMs ouviram pelo sistema de rádio a comunicação feita pelos ocupantes do helicóptero à torre, informando que a aeronave estava caindo.

¿ Estranhei que um helicóptero estava voando muito baixo, dando um rasante. Logo depois ouvi uma explosão e, ao voltar para meu quarto, vi os alunos do Bennett pedindo socorro pelas janelas, dizendo que estava pegando fogo ¿ contou Juliana Martins, 18 anos, que mora de frente para a faculdade.

O piloto de helicópteros Hévio de Oliveira, 67 anos, assistiu ao acidente do 21º andar do edifício onde mora, e contou que a aeronave já caiu em chamas. ¿ Assisti aos últimos três segundos da queda. Como piloto, vi que ele tentou pousar, mas já estava pegando fogo ¿ contou.

Para o reitor Anísio Pereira, o piloto estaria procurando um local para pousar. Ele acredita que a busca pela laje foi uma tentativa de evitar o pátio, que estava cheio de alunos. A aeronave caiu sobre a laje do Edifício Erasmo Braga, onde funcionam um auditório, a sede regional da Igreja Metodista e uma capela.

A aluna Melissa Garcia, de 22 anos, do curso de extensão em teatro, estava ensaiando quando ouviu a explosão.

¿ O prédio já estava pegando fogo e as pessoas correndo, desesperadas. Os próprios funcionários do Bennett estavam tentando esvaziar a faculdade ¿ contou.

Segundo Luiz Neves, diretor da Faculdade de Arquitetutra do Bennett, o prédio, de 1940, tem dupla laje de concreto, o que teria amortizado o impacto e impedido o vazamento maior de querosene. Uma aluna de direito, Alessandra Ávila, de 30 anos, estava na lanchonete situada logo atrás do edifício atingido e contou que um dos tripulantes ainda tentou pular do helicóptero.

¿ Foram duas explosões em menos de cinco segundos. O combustível começou a cair na cafeteria e parecia que o prédio ia desabar ¿ disse Alessandra. Aluna do curso de nutrição, Michele Moita, 22 anos, estava no pátio com a irmã Raísa e viu toda a queda.

¿ Achei que o helicóptero fosse cair em cima de mim. Só deu tempo de correr para a Marquês de Abrantes. Vi quando a hélice bateu no prédio principal da faculdade e depois caiu ¿ contou Michele, aos prantos.

Logo após o acidente, funcionários da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes da faculdade ajudaram a combater o incêndio. Os bombeiros chegaram pouco depois e apagaram as chamas em cerca de cinco minutos. Mas, segundo testemunhas, havia muita confusão em frente à faculdade.

¿ Fiquei impressionada com o entra-e-sai no prédio, muitos bombeiros, alunos, curiosos, uma bagunça ¿ acrescentou Juliana.

O GAM também deu apoio às ações terrestres de resgate, usando o refletor da aeronave para iluminar a área do acidente. Ao todo, 45 homens dos quartéis do Humaitá e Catete foram deslocados para o Bennett.

A Marinha enviou equipe de peritos ao campus para apurar as causas do acidente. A Polícia Militar, contudo, descartou a possibilidade de a aeronave ter sido atingida por um disparo vindo do Morro Azul, onde acontecia um tiroteio.

Por causa do acidente, a CET-Rio fechou um trecho da Rua Marquês de Abrantes entre as ruas Paissandu e Fernando Osório. Os ônibus foram desviados para a Praia do Flamengo.