Título: Israelense condenado por matar ativista
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/06/2005, Internacional, p. A7
JERUSALÉM - Depois de uma longa batalha da família do ativista britânico Thomas Hurndall, morto em 2003, aos 22 anos na Faixa de Gaza, a Justiça militar de Israel finalmente considerou culpado o autor do tiro. O franco-atirador Taisyr al Heib, sargento do regimento de rastreadores beduínos do Exército, foi declarado culpado de homicídio, obstrução da Justiça e perjúrio. A sentença será anunciada em meados de agosto, mas a pena pode chegar a 20 anos.
Hurndall, do Movimento de Solidariedade Internacional (MSI), foi ferido na cabeça em Rafah por um disparo vindo de um posto militar israelense. Segundo testemunhas palestinas e estrangeiras, não havia tiroteio na região. O Exército negou que fosse responsável pela morte de Tom, que passou nove meses em coma. A posição mudou quando a família Hurndall levou as evidências de crime - e queixas contra a disposição das autoridades de encobrir os culpados - ao governo britânico.
No dia seguinte ao incidente, Taysir afirmou que havia respondido a um tiro disparado por um palestino. O relato foi corroborado por um colega, mas declarado falso oito semanas depois.
Por apoiar um testemunho falso, o colega do atirador foi condenado a cinco meses na prisão, dois anos de suspensão e foi rebaixado. Taysir, encorajado pelo policial que o escoltava, agrediu jornalistas na saída da sala. Segundo o jornal Ha'aretz o militar admitiu que havia falado com Hurndall sobre ''os perigos de andar naquela área'' e que depois mirou a centímetros da cabeça dele ''para assustá-lo, mas o ativista se moveu''.
Apesar de considerarem que o tribunal puniu o culpado, os pais de Tom criticaram o governo israelense.
- Ele é um bode expiatório. Queremos que os oficiais que encorajam os soldados a matar civis sejam processados também - disse o pai de Tom, Anthony. Em Londres, a mãe, Jocelyn, completou: - O caso de Tom é raro porque é o único investigado envolvendo estrangeiros. Só aconteceu por pressão externa, da família e do governo britânico. Israel tentou abafar o caso desde o início.
O irmão de Tom, William, que viajou para Jerusalém, foi proibido de entrar no país por ser ligado ao mesmo movimento pacifista. O porta-voz do governo, Mark Regev, justificou dizendo que o propósito da visita ''não era inocente'' e que o jovem havia participado anteriormente de ações ''que violavam as leis do país''. William teria se recusado a assinar documento, no aeroporto, se comprometendo a não se unir a ações do MSI.
Na semana passada a ONG de direitos humanos Human Rights Watch criticou o Exército por não investigar a maioria dos casos de mortes de civis. De 1.661 casos, só em seis os soldados foram condenados, no máximo a 20 meses de cadeia. Na na maioria dos casos, acrescenta a HRW, um militar israelense recebe pena mais grave por furtar um celular ou um isqueiro do que por ter matado um palestino.