Título: Conselho de Ética só vai ouvir José Dirceu em agosto
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 28/06/2005, País, p. A4
O deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil, pediu ontem ao Conselho de Ética o adiamento do seu depoimento, previsto para quinta-feira. O deputado alegou motivos de ordem pessoal, como mudança de gabinete e de residência. Acusado pelo deputado Roberto Jefferson, de ter conhecimento do suposto esquema de pagamento de mesada para deputados em troca de apoio político - o mensalão - Dirceu fará um dos testemunhos mais esperados no Conselho. Ainda não há uma nova data prevista para o depoimento de Dirceu, segundo informou o presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), mas a Casa deverá entrar em recesso no mês de julho, o que provocaria o adiamento do depoimento para o mês de agosto.
Mas a investigação sobre o mensalão, que o governo queria manter afastada até o recesso parlamentar, apostando no esfriamento da crise, será o ponto central dos trabalhos do Congresso nesta semana. O Conselho de Ética da Câmara ouve hoje o depoimento de Fernanda Karina Sommagio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, que alega ter visto malas de dinheiro saindo da agência SMP&B. Na mesma hora, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara vota o projeto de resolução para definir a instalação da CPI do Mensalão na Casa - a iniciativa ainda precisa ser aprovada em plenário.
Na quinta, a CPI dos Correios ouve o depoimento do presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). O governo não conseguiu adiar a vinda de Jefferson e ainda terá que ver, provavelmente na próxima semana, o publicitário Marcos Valério depondo perante deputados e senadores.
- O depoimento dele já estava previsto, assim como de sua ex-secretária, mas diante dos últimos fatos vemos a necessidade de antecipar esta convocação - justificou o presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MT).
No final de semana foram divulgadas vultosas movimentações financeiras nas contas da Agência SMP&B, nos últimos dois anos. Pelos registros, neste período a agência sacou aproximadamente R$ 20 milhões de agências do Banco Rural. Essas revelações tornam ainda mais explosivo o depoimento de Fernanda Karina no Conselho de Ética.
O relator do Conselho, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), não vê problemas no fato de Fernanda ter apresentado duas versões diferentes nos depoimentos à Polícia Federal. Em um primeiro momento, logo após a entrevista concedida a IstoÉ Dinheiro ela desmentiu ter presenciado a movimentação de malas de dinheiro na agência. Depois, confirmou as acusações apresentadas na imprensa.
- Ela é dona de si mesmo, diz que sofreu ameaças. No Conselho de Ética, ela tem o direito de dizer a verdade, sem nada temer - apontou o pefelista.
Carneiro afirmou que a Câmara vai oferecer segurança especial para Fernanda Karina prestar seu depoimento.
O mensalão também será alvo de uma CPI da Câmara. Como existem outras cinco Comissões de Inquérito em funcionamento na Casa, a bancada governista resolveu apresentar um projeto de resolução, para que a proposta possa ''furar a fila''. O projeto será votado na CCJ hoje e precisa ainda ser aprovada em plenário, trancado por duas MPs e três projetos de urgência constitucional.
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), avisou ontem que, assim que a iniciativa for aprovada na CCJ, entrará imediatamente na pauta do plenário.
- Quando o Congresso quer trabalhar, conseguimos fazer as coisas. Vamos fazer tudo para que as denúncias sejam investigadas - disse Severino.
A instalação de uma CPI específica para investigar o Mensalão divide opiniões no Congresso. Para a deputada Denise Frossard (PPS-RJ), dentro do princípio do Direito segundo o qual ''a prova é una e indivisível'', não há necessidade de se instalar outra Comissão de Inquérito. Para ela, a CPI dos Correios seria suficiente para destrinchar o esquema.