Título: Apoio do PMDB vai custar muito caro ao governo
Autor: Sérgio Pardellas e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 28/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - Não há rosário nem argumento que una o PMDB em torno da proposta do presidente Lula de participação no Ministério em troca de uma aliança sólida no Congresso. Enquanto deputados e senadores desfiavam um rosário de argumentos políticos para sustentar sua posição, emissários dos sete governadores peemedebistas e da cúpula do partido fizeram chegar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Coordenação Política, Aldo Rebelo, a fatura do desembarque da legenda na Esplanada: seis pastas e a liberação de pelo menos R$ 6,29 bilhões, referentes a demandas represadas aos estados pela União. Como num primeiro momento, Palocci travou a liberação da verba, os governadores endureceram o discurso. Enviaram ao presidente nacional do partido, Michel Temer (SP), um documento em oposição à maior participação da legenda no primeiro escalão.

- Os governadores afirmam que o PMDB não quer participar do governo Lula. Quer assegurar a governabilidade, mas não tem necessidade de ocupar cargos, para ter a liberdade de votar como achar conveniente - informou o secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho.

O Planalto, convencido da importância do partido para a sustentação política no Congresso, não fechou a porta às negociações. Haverá um novo encontro de Lula com os principais líderes do PMDB ainda esta semana.

A maior conta é cobrada pelo governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos. Embora deixe passar a idéia de que está cada vez mais afinado com o presidente Lula e com os projetos do Planalto para 2006, Jarbas tem como alvo a construção da refinaria da Petrobras no estado. A obra é avaliada em R$ 2,3 bilhões, numa associação entre a estatal brasileira e a venezuelana PDVSA.

A fatura do Rio Grande do Sul também é alta: R$ 1,9 bilhão. Do total, R$ 900 milhões como compensação das perdas da desoneração das exportações - 10% dos R$ 9 bilhões prometidos pelo governo no início do ano -, e R$ 1 bilhão como ressarcimento de obras em rodovias federais realizadas com recursos do estado.

A reivindicação do Rio é antiga. Um dos críticos mais cáusticos da ocupação na estrutura administrativa federal pelo PMDB, Garotinho pleiteia a liberação de R$ 350 milhões das contas B do Banerj e a antecipação de R$ 1 bilhão de pagamentos dos royalties do petróleo para o estado.

Da lista de pedidos do governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, constam 40 itens. Chegaram ao conhecimento do ministro Aldo Rebelo nos últimos dias. A exemplo do Rio Grande do Sul, a maior demanda relaciona-se à compensação das perdas com a Lei Kandir. Soma R$ 600 milhões.

O Paraná cobra a mudança na Lei dos Portos que permitirá a modernização do porto de Paranaguá, o maior exportador de grãos do mundo. No Orçamento da União estão previstos apenas R 3 milhões, valor considerado irrisório pelo governador Roberto Requião. O peemedebista agradeceria se o governo soltasse pelo menos R$ 140 milhões.

Os seis ministérios criaram uma saída política para contemplar o PMDB como um todo. Seria uma saída para agradar todas as alas de um partido dividido. As fatias atenderão os grupos da Câmara, do Senado, dos governadores e do ex-presidente do Congresso, senador José Sarney. O partido acalenta o sonho de controlar os Ministérios de Minas e Energia, Cidades, Integração Nacional e Saúde; E manter -se nas Comunicações e na Previdência.