Título: Bush diz que 'sacrifício vale a pena'
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/06/2005, Internacional, p. A8

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, George Bush, fez ontem discurso em cadeia nacional para tentar reverter o pior quadro de rejeição ao seu governo e à guerra que trava no Iraque. Diante de uma platéia de militares, pela primeira vez arriscou uma espécie de plano vago para o futuro da presença americana no país, onde as tropas perderam até agora 1.740 soldados, com 13 mil feridos. Mas, frustrando principalmente as famílias dos que morreram, se recusou a dar uma data para a retirada, alegando que seria ¿uma vitória do inimigo¿. Também apelou à memória do maior trauma do país, os ataques em 11 de setembro de 2001, para tentar recuperar o apoio à caçada ao arquiinimigo Osama Bin Laden. Enquanto isso, em Bagdá, o dia foi de rotina: mais atentados a bomba, mais mortes de soldados e a execução por rebeldes de um importante parlamentar sunita. ¿ O trabalho no Iraque é difícil e perigoso. Como a maioria dos americanos, vejo as imagens da violência todo dia. São aterradoras e o sofrimento é real. Mas sei que todos se perguntam: ¿o sacrifício vale a pena?¿. Vale e é vital para a nossa segurança no futuro ¿ disse.

Bush estava em Fort Bragg (Carolina do Norte), uma das maiores bases dos EUA e que mandou 9.300 homens para o front. Por mais de uma vez, agradeceu aos militares e a suas famílias, sempre insistindo que a luta pelo que chama de democracia no país árabe é a única forma de se vencer o terrorismo.

¿ O Iraque é o último campo de batalha deles. Então os enfrentamos lá, lutamos em todo o mundo e continuaremos os enfrentando até que a vitória seja conquistada. (...) Nossa missão é clara. Caçamos terroristas e ajudamos os iraquianos a construir uma nação livre e um aliado na guerra contra o terror. Estamos promovendo e avançando em direção à liberdade no Oriente Médio. Estamos removendo uma fonte de violência e instabilidade e estabelecendo as bases da paz para nossos filhos e netos ¿ acrescentou, resumindo os próximos passos no campo de batalha: o trabalho conjunto das tropas aliadas e iraquianas, a troca de informações para o treinamento de uma elite de inteligência e a formação de lideranças.

Bush falou por 24 minutos para lembrar o primeiro aniversário da devolução da soberania do Iraque. Ontem, mais uma pesquisa de opinião, CNN/USA Today/Gallup, mostrou que a maioria dos americanos (53%) desaprova a performance geral do presidente, contra 45% que aprovam. É a mais alta rejeição desde a posse, em janeiro de 2001. Sobre o Iraque, 58% dos mil entrevistados rejeitaram seu modo de lidar com a guerra. Apenas 40% acham que a política está correta.

O presidente garantiu que a luta contra a insurgência está sendo bem sucedida, desafiando todas as evidências em contrário. Desde o início do novo governo iraquiano, em abril, mais de mil civis foram mortos em atentados da guerrilha e 156 soldados perderam a vida. Por isso, aumentam vozes no Congresso a favor de um calendário claro para o retorno das tropas. A esses críticos, Bush respondeu:

¿ Marcar uma data seria um grande erro. Uma mensagem errada para o Iraque, que precisa saber que não sairemos de lá antes da hora; para nossas tropas, que pensariam que não estamos falando sério enquanto arriscam suas vidas; e uma mensagem errada para o inimigo, que pensaria: ¿tudo o que nós temos que fazer é esperar até que saiam de lá.¿

O presidente também apontou o que classifica como derrotas da insurgência:

¿ Os terroristas, tanto iraquianos como de países como Síria, Arábia Saudita, Irã, Egito, Sudão e Iêmen, falharam quando tentaram impedir que devolvêssemos a soberania ao Iraque; falharam ao tentar forçar nossos aliados a sair de lá; falharam ao tentar impedir as eleições; falharam ao impedir que um novo governo tomasse posse e falharam ao tentar impedir iraquianos de se juntar, às centenas, às forças de segurança para defender sua democracia. (...) A única maneira de ganharem é se nos esquecermos das lições do 11/9 e abandonarmos os iraquianos e o futuro do Oriente Médio nas mãos de homens como Al-Zarqawi e Osama Bin Laden.

Nas cercanias de Bagdá, horas antes do discurso do presidente, o decano do parlamento iraquiano, Dhari al-Fayad, 87 anos, foi morto em um atentado suicida contra seu comboio. Também morreram seu filho e três seguranças. Fayad é o segundo membro do parlamento - formado nas eleições de 30 de janeiro - a ser assassinado. Outros deputados saíram ilesos de ataques.