Título: Gorbatchev reavalia a 'perestroika'
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 29/06/2005, Internacional, p. A12

Reunido com correligionários, o ex-secretário geral do PC soviético, Mikhail Gorbatchev, fez ontem um balanço sobre a reestruturação (perestroika, em russo) que levou ao desmonte da URSS, há vinte anos. Há dúvidas se o movimento foi uma vitória ou um fracasso.

- Recordo-me de quando éramos livres - afirmou o ex-secretário-geral, dando o tom meio pessimista do encontro.

- Pela primeira vez na história, o povo russo teve uma experiência democrática, mas a democracia que esperávamos não chegou - lamentou Vladimir Kichenin, dirigente do Partido Social-Democrata, em alusão ao governo de Vladimir Putin e à força da burocracia que permaneceu intocada.

Mikhail Gorbatchev assumiu o poder em 1985 e iniciou a reestruturação política, econômica e social do país. Retirou as tropas soviéticas do Afeganistão - batidas pelo talibã e pela CIA no confronto final da Guerra Fria - e sustou o apoio aos regimes comunistas do leste europeu. Todos ruíram e, em 1989, caiu o Muro de Berlim. Era o fim de uma era.

- No exterior, Gorbatchev continua como o homem que afastou do mundo a ameaça nuclear. Aqui, o povo ainda não o compreendeu - observou o ex-conselheiro Fiodor Burlatski.

- A Perestroika rompeu-se, mas saiu vencedora porque levou nosso país a processos democráticos irreversíveis. - analisou o ex-secretário-geral.

Soltan Zarassov, catedrático de economia, lembrou dos custos.

- As reformas do sucessor dele, Boris Yeltsin foram o começo da morte da Rússia. Somos uma nação moribunda: a taxa de mortalidade foi duplicada em relação à época soviética, passando para 16 em 1.000 habitantes - avaliou.