Título: Afagos na indústria, jogo duro no campo
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 29/06/2005, Economia & Negócios, p. A17
Mais de 20 mil produtores rurais e 2 mil tratores tomaram ontem as ruas da capital, em protesto para exigir do governo a liberação de R$ 4 bilhões em empréstimos para cobrir dívidas provocadas por secas, enchentes, alta nos custos de produção e queda do dólar. Os manifestantes reivindicavam ainda a criação de um seguro agrícola para garantir ressarcimento de eventuais perdas na safra. - Estamos passando por uma das piores crises já registradas no país. Vamos apresentar nossas reivindicações ao governo e não sairemos daqui enquanto não formos atendidos - disse Leôncio Brito, um dos organizadores do movimento apelidado de tratoraço.
Alguns manifestantes chegaram a ameaçar invadir o Congresso. Cerca de 400 policiais foram chamados para evitar tumultos. A confusão só terminou quando os deputados Abelardo Lupion (PFL-PR) Luís Carlos Heinze (PP-RS) e Júlio Semeghini (PSDB-SP), da bancada ruralista, subiram no carro de som e pediram calma.
Os deputados da Comissão de Agricultura da Câmara receberam uma comissão formada por 30 produtores rurais para conversar sobre as reivindicações do campo . E o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO) apresentou o Projeto de Lei nº 5507/05, que prevê, entre outras ações, a prorrogação da parcela da dívida dos agricultores que vence em dezembro deste ano até 2026, com juros de 3% ao ano.
- Nós estamos solicitando aos governadores de estados atingidos pela crise que decretem estado de emergência. Além disso, vamos pedir que a Câmara e o Senado obstruam a pauta de votações até que haja a prorrogação da dívida e que um fundo de emergência seja criado - afirmou Caiado.
Às 17h, a comissão resolveu transferir a audiência para uma tenda montada na Esplanada, onde os deputados falaram aos manifestantes. Alfinetadas ao governo e referências ao mensalão deram o tom dos discursos. Os produtores prometem novas manifestações. Às 11h, representantes do movimento terão audiência com o presidente Lula. Muitos fecharam contratos de exportação com o dólar a R$ 3,10 e enfrentam prejuízos com o câmbio atual, abaixo de R$ 2,40, além da resistência do governo ao socorro bilionário.