Título: PMDB continuará dando trabalho a Lula
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 29/06/2005, País, p. A2

Muito esforço por quase nada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ter de manter negociação em separado com o PMDB para garantir a ¿governabilidade¿. ¿ O Lula vai pagar mais pelo mesmo ¿ resumiu ontem o deputado Geddel Vieira Lima (BA), durante a tumultuada reunião da bancada da Câmara convocada para decidir sobre o apoio ao Poder Executivo. Apesar de toda a exposição do presidente, posando de mãos dadas com os peemedebistas para fotos, no início da noite o presidente da legenda, Michel Temer, rejeitou a oferta do Planalto por mais ministérios formalizada em almoço na última sexta-feira. Hoje ele pretende procurar o presidente Lula e dizer para não contar com o PMDB de corpo inteiro, como era o seu desejo, ao propor o chamado governo de coalizão.

¿ O presidente foi muito leal comigo quando me disse, semana passada, que queria contar com o PMDB por inteiro. Por isso, vou dizer a ele, também por um dever de lealdade, que isso não será possível. É melhor deixar como está ¿ afirmou.

Com a rejeição do dote oferecido pelo Planalto, o PMDB governista, capitaneado pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), passou a trabalhar desde o início da noite de ontem para manter sob sua batuta as duas pastas que controlam atualmente, Previdência Social e Comunicações, mais o das Minas e Energia, prometido pelo presidente ao senador José Sarney (PMDB-AP). Para isso, os governistas articulam no sentido de assegurar ao menos o apoio congressual do PMDB ao governo.

¿ O pacto pela governabilidade está relacionado à construção de uma maioria no Congresso. Essa coisa de ocupação de espaços, se vai ter três ou quatro ministérios, é irrelevante ¿ afirmou Renan depois de tomar conhecimento de que o partido não marcharia unido com o Planalto.

A idéia seria produzir dois pólos de apoio ao governo no Congresso. Um na Câmara, sob a orientação do líder José Borba (PMDB-PR) e outro no Senado, Renan, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) à frente. A tarefa, no entanto, não é fácil uma vez que a divisão do partido ficou mais uma vez evidenciada à luz da crise. A ala ligada ao ex-governador Anthony Garotinho, por exemplo, reúne cerca de 40 deputados e resiste a apoiar o governo.

O Planalto, contudo, interessado na providencial sustentação dos peemedebistas ainda não jogou a toalha. Na noite de ontem, ministros do núcleo político entraram em campo para reverter a decisão do PMDB.

A dificuldade para um entendimento já havia ficado constatada em jantar na noite de anteontem na residência do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL) que reuniu as principais lideranças peemedebistas. Durante a discussão, Temer e o ex-deputado Eliseu Padilha defenderam a tese da convocação de uma convenção para examinar a proposta do presidente Lula por uma ocupação mais efetiva do PMDB na estrutura administrativa federal. Mas falaram sozinhos, segundo dois comensais. A maioria foi favorável a que o pacto pela governabilidade idealizado por Lula fosse submetido à Executiva, por ser uma maneira mais simples e rápida de definir a questão.

¿ A Executiva que serve para prorrogar mandatos também deve servir para deliberar sobre uma proposta do Lula, não é justo ? ¿ ponderou um dos presentes no encontro.

O racha se acentuou durante reunião da bancada do PMDB realizada na Câmara na tarde de ontem. Tenso e tumultuado, o encontro terminou sem qualquer definição depois de quase duas horas de discussão. Estavam presentes 61 dos 85 peemedebistas.

¿ A reunião da bancada do PMDB terminou sem decisão a respeito da proposta do presidente, depois que diversos deputados se manifestaram contra a participação do partido no Ministério. A bancada se dividiu ¿ disse Temer. No início da noite a bancada soltou uma nota em favor da governabilidade, mas sem cargos.