Título: Contradição ao falar do dinheiro
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 29/06/2005, País, p. A3

O esperado depoimento da ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Sommagio, decepcionou os integrantes do Conselho de Ética da Câmara. Pressionada por parlamentares, Karina admitiu que a maior parte de denúncias feitas à revista IstoÉ Dinheiro baseava-se em suposições ou informações de terceiros. Um dos pontos altos do depoimento foi quando a ex-secretária confirmou a existência de saques nas agências do Banco Rural e do Banco do Brasil nas vésperas das viagens de Valério para Brasília. Ela negou, entretanto, ter visto malas ou saber quais os valores sacados.

Fernanda afirmou que seu ex-patrão tinha bom trânsito com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o secretário-geral do partido, Silvio Pereira e o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Revelou ter feito uma ligação de Valério para o gabinete da Casa Civil. Em outro momento, disse que fez contato com o diretório do PT em São Paulo, solicitando que Dirceu retornasse uma ligação para o publicitário. Afirmou que o contato foi estabelecido quando seu ex-patrão atendeu uma ligação no celular, em pé, na porta de sua sala e respondeu: ¿Alô ministro, como vai¿?

Dirceu, que tem evitado responder às acusações de envolvimento no esquema, se permitiu ontem uma brincadeira. Ao entrar no ¿cafezinho¿ do plenário da Câmara para comer um bolo, se deparou com a transmissão do depoimento. Se virou para a TV e gritou ¿Mentira!¿. Aos risos, foi pegar o bolo.

No depoimento, Fernanda também desmentiu uma declaração dada à revista, onde afirmou que, ¿com certeza, os recursos sacados dos bancos vinham de estatais¿. Ao justificar o fato de saber dos supostos saques feitos pela SMP&B, jogou a responsabilidade para as funcionárias do departamento financeiro, Geisa Dias e Simone Vasconcelos e aos motoboys da empresa. Sobre o fato de não ter visto os recursos, apenas ter ouvido dizer que seriam levados para os amigos de Valério em Brasília, acrescentou:

¿ Não era do departamento financeiro, era só uma secretária. A Simone disse que vinha para Brasília e passava o dia contando dinheiro, no quarto, num entra-e-sai de homens, e isto estava deixando-a cansada ¿ disse, provocando risadas maliciosas nos parlamentares.

Fernanda Karina afirmou que as reuniões para as divisões de recursos aconteciam nos hotéis Sofitel, em São Paulo, Grand Bittar e Blue Tree, ambos em Brasília. Admitiu ser a responsável pela marcação dos encontros, mas não soube precisar quem participava deles.

A ex-secretária confirmou ainda o bom relacionamento de seu ex-patrão com o diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. No entanto, justificou de forma inusitada a utilização da palavra negociata para definir os encontros mantidos em hotéis ou restaurantes.

¿ Se fossem reuniões sérias, aconteceriam na sede das empresas ou nos bancos. Mas reconheço que negociata foi a única palavra que me veio à mente quando me perguntaram dos encontros ¿ justificou.

A ex-secretária reconheceu que nunca ouviu falar de mensalão ou de outros encontros de seu patrão com representantes de partidos. Afirmou ainda que sequer ouviu falar do nome de Roberto Jefferson no período em que foi secretária da SMP&B.