Título: Polícia em xeque no Leblon
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 30/06/2005, Rio, p. A15
Responsável pela segurança nos bairros do Leblon, Lagoa, Ipanema, Gávea, São Conrado e Jardim Botânico, além das favelas da Rocinha e do Vidigal, o 23º Batalhão de Polícia Militar foi sempre marcado pelos menores índices de violência da cidade. Nas últimas semanas, porém, episódios de violência na Favela da Rocinha e denúncias de corrupção contra policiais militares na área mais nobre do Rio mancharam a imagem de eficiência da unidade. As suspeitas mais graves de desvio de conduta foram registradas, respectivamente, no último fim de semana, na Cruzada São Sebastião, e no início do mês, no Morro do Cantagalo. O comandante do 23º BPM (Leblon), coronel Carlos Norberto Mendes, admitiu que três policiais mentiram sobre o espancamento do entregador de água Luiz Anderson da Cruz Santana, 21 anos. O rapaz teria sido vítima de uma confusão criada por policiais que cobravam a propina paga por traficantes. Há dois dias, os policiais do batalhão voltaram a ser acusados cobrança de propina. Os PMS são suspeitos de terem executado Rodrigo Santos Conceição, 19.
Além das denúncias de corrupção, a unidade enfrenta as reclamações de moradores e comerciantes, que apontam falhas no policiamento. De acordo com a presidente da Associação de Moradores e Amigos de Ipanema, Glória Roland, no domingo não havia policiais na Avenida Vieira Souto, onde ocorreu o acidente de trânsito que causou a morte de um aposentado.
- O acidente foi às 6h30, mas só apareceram PMs às 7h30. Infelizmente, só vemos policiamento nas entradas das favelas entre 7h e 19h e na General Osório - critica Glória.
Segundo a presidente da Associação Comercial do Leblon, Evelyn Rosenzweig, também há roubos na Rua Dias Ferreira.
- Vários restaurantes foram assaltados no mês de maio. A estratégia de policiamento do bairro, que tem a maior concentração de renda do Rio, não está dando certo. Não estamos vendo policiais na rua - diz Evelyn.
As últimas estatísticas de violência da Secretaria de Segurança Pública reforçam as críticas dos moradores. Comparado ao mesmo mês do ano passado, em março, houve crescimento no número de roubos: foram 148 contra 79 em 2004. Ao mesmo tempo, foram registradas quedas nas apreensões de armas, drogas e prisões. Segundo o coronel Mendes, que assumiu o comando do batalhão no início de março, as estatísticas refletem uma estratégia da PM usada diante da iminência de invasão de traficantes da Rocinha no Morro do Vidigal. De acordo com ele, foi feita uma contenção de policiais na Rocinha.
- De um lado, por causa da contenção, os policiais fizeram menos operações. Do outro, com o tráfico sufocado os bandidos se voltam para outros delitos - explica Mendes.
O coronel afirma que, apesar da reclamação dos moradores, há policiamento baseado e em patrulhamento na região.
- O batalhão tem bom número de policiais, o problema é a demanda de serviços pelo descontentamento da ausência de atuação dos demais órgãos. A desordem urbana faz a polícia trabalhar em excesso - defende o coronel.
O comandante não comenta as denúncias de corrupção de policiais no batalhão. A PM informa, entretanto, que no caso da Cruzada São Sebastião, não há prova contra os policiais.
- A corrupção na PM chega a assustar. Também acho que a população colabora para isto quando corrobora com o que é ilegal - lamenta Evelyn.