Título: Inclusão e ensino superior
Autor: Coronel Jairo
Fonte: Jornal do Brasil, 30/06/2005, Outras Opiniõpes, p. A13

O Brasil vive um processo acelerado de envelhecimento de sua população, que tem contribuído para redesenhar a pirâmide etária no país. Projeções recentes do IBGE indicam que o contingente de idosos, hoje na faixa de 16 milhões de pessoas, vai dobrar até 2025. Paralelamente, 27% dos brasileiros acima de 60 anos já contribuem com mais de 90% da renda familiar, tornando-se os provedores do sustento doméstico. Essa parcela expressiva da população, no entanto, carece de instrumentos eficazes de inclusão social, especialmente na área de ensino.

O grau de escolaridade dos idosos ainda é extremamente baixo. E as oportunidades de ensino, escassas. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, apenas 0,31% desses cidadãos estão matriculados em escolas ou universidades, o que significa pouco mais de 44 mil pessoas, segundo o censo demográfico de 2000. É muito pouco. Os idosos de hoje são parte de uma geração que fez a transição do Brasil rural para o Brasil urbano e moderno. Construíram as bases daquilo que o país tem hoje de mais avançado. Recebiam a educação para o emprego já dentro do próprio trabalho, onde começavam como aprendizes e iam avançando, tendo a prática como melhor escola.

Essa geração chegou à terceira idade sem ter experimentado uma das grandes molas mestras do conhecimento humano, que é a universidade. Para começar a resolver esse problema, foi introduzida uma nova vertente de ensino superior, desta vez não mais voltada para o mercado de trabalho, e sim para o acúmulo de novos conhecimentos. As universidades da terceira idade não apenas valorizam o idoso por sua experiência de vida, como acrescentam motivação, abertura a novas idéias e um espaço de convivência estimulante. Surgiram há 30 anos, na França, e desde então seu modelo se espalhou pelo mundo, chegando ao Brasil na década de 90.

Já são quase 200 os cursos em funcionamento no País, mas há diferenças regionais nessa prática. Enquanto algumas universidades, como a USP, oferecem disciplinas da graduação formal, mas exigem curso superior dos idosos que participam do programa, outras, como a Uerj, têm grades específicas para eles, mais voltadas para temas como saúde, Biologia, Teologia e História. O que falta nesse cenário é oferecer aos idosos um canal de entrada para a universidade na sua maneira mais tradicional.

De acordo com o Estatuto do Idoso, o direito à educação formal e profissional é garantido, como também são as oportunidades de acesso. Então, que maneira melhor de cumprir o Estatuto do que oferecer ao idoso as vagas formais da universidade pública, por meio do ingresso automático? Dentro de uma proporção que o Estado deve definir, já que não há ocupação integral de vagas em vários cursos, o diploma poderia ser um verdadeiro avanço na vida da pessoa idosa, estimulando a continuação de sua vida intelectual e produtiva.

Ao lado de iniciativas de escolaridade em outros níveis, o acesso direto ao ensino superior poderia melhorar muito esse quadro, até porque os idosos não têm condições de disputar vagas no vestibular com os mais jovens, já que os parâmetros de competição entre as gerações são completamente diferentes. O melhor instrumento de inserção social e valorização pessoal de que dispomos é a educação. Em um país que ocupará, segundo as projeções, dentro de uma década, o sexto lugar entre os países mais envelhecidos, é essencial pensar com mais carinho na questão e abrir as portas da universidade para um segmento da população sedento de oportunidades.

Temos técnicos superiores preparados para conceber projetos pedagógicos com pessoas de todas as idades e em uma pluralidade de contextos de trabalho. Os idosos precisam e merecem outro olhar por parte da sociedade, mas a sociedade mais justa e mais humanista que queremos para este século precisa também dos idosos, da sua participação empenhada e do testemunho da sua sábia maturidade. As extraordinárias oportunidades de desenvolvimento abertas pelas novas tecnologias vão servir de muito pouco se não aprendermos a lição que nos pode ser dada pelo testemunho de uma vida.