Título: Discurso de Bush irrita soldados
Autor: Rozane Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 30/06/2005, Internacional, p. A10

Pesquisas de opinião registraram que parte da população americana gostou do discurso do presidente George Bush, transmitido em rede nacional na terça-feira à noite. Mas a velha mania de tentar vincular os ataques terroristas de 11 de setembro ao Iraque e o fato de não querer marcar uma data para a retirada das tropas daquele país deu munição tanto aos críticos que tem dentro de casa quanto aos que acompanham, cuidadosos, seus passos de outros continentes. Para esses, Bush, na verdade, não tem uma explicação plausível para a guerra que começou e agora não sabe como acabá-la. Um dos primeiros a se manifestar ontem, foi o crítico mais feroz ao discurso do presidente. E falou com conhecimento de causa. O tenente Paul Rieckhoff passou 10 meses em combate no Iraque e voltou no ano passado certo de que os militares só precisam saber que o presidente tem um plano definido. Segundo ele, pelo que disse ontem, o presidente parece ignorar que é óbvio que o país precisa mandar mais soldados e que o líder da nação tem que definir uma data de retirada.

¿ Precisamos de respostas, de um líder. Não é verdade que estamos vencendo e que as forças rebeldes estão sendo debeladas. Simplesmente não é verdade. Elas estão mais fortes, mais sofisticadas e têm cada vez mais armas ¿ afirmou ao JB.

Em seguida, vieram os políticos democratas americanos, opositores ao chefe republicano e que sempre se apegaram à guerra para brigar com o governo.

¿ Ele explorou o 11 de Setembro, que é sagrado, sabendo que não há nenhuma conexão com o Iraque ¿ disse a deputada Nancy Pelosi.

O senador John Kerry, que tentou tomar de Bush a presidência nas eleições do ano passado, repetiu o que tem dito quando critica a guerra: ¿Nós não temos soldados suficientes¿.

O discurso foi criticado até por um senador republicano, John McCain. Depois de rasgar elogios ao pronunciamento presidencial, McCain concordou com Kerry.

¿ Um dos grandes erros que cometemos foi não ter soldados suficientes no início da guerra. Parece que a situação continua a mesma.

O discurso de Bush marcou o primeiro aniversário desde que os Estados Unidos, segundo a visão da Casa Branca, devolveu ao país árabe sua soberania.

No Iraque, o discurso foi transmitido antes do amanhecer, o que reduziu o número de espectadores a quase zero. Mas entre os que assistiram, o quadro parecia ao registrado nos próprio território americano.

Para o professor de Engenharia, Moayad Yasin Al-Samaraie, por exemplo, a promessa feita por Bush de só retirar suas tropas quando fosse o momento certo trouxe um sentimento de segurança, de garantia de que os americanos garantiriam a ordem na região.

¿ O Iraque não pode ficar estável se as forças americanas e dos aliados saírem daqui ¿ disse Al-Samaraie.

Mona Hussein discorda.

¿ Os terroristas vão continuar a atacar os americanos enquanto eles estiverem aqui. Deveriam ir embora logo. Assim haveria menos explosões e mais tranqüilidade. Enquanto ficarem, vamos continuar vivendo numa terra ocupada. Como a Palestina ¿ disse Hussein.

Ao redor do mundo, a repercussão seguiu o esperado. Elogios dos líderes dos países aliados. Críticas vindas dos países que não apóiam a guerra. A surpresa ficou por conta do chanceler Gerhard Schröder, da Alemanha, país que sempre criticou a ofensiva americana. O líder alemão, que teve um encontro recente com Bush, foi diplomático. Disse que o discurso não o surpreendeu.

¿ A Alemanha vai continuar a apoiar a reconstrução através de esforços civis e do treinamento dos militares locais. É importante que o processo político, especialmente, no que diz respeito à constituição, não pare.

Em Washington, Bush anunciou ontem o congelamento de bens de empresas e entidades ligdas à Coréia do Norte, Irã e Síria suspeitas de vinculação com a proliferação de armas de destruição em massa.